Clima: apelos para que governos adotem medidas crescem diante de temores de 'naufrágio' da COP26
MUNDO
Publicado em 29/10/2021

A apenas três dias do início do evento, crescem temores de um "naufrágio" da 26ª Conferência do clima da ONU, que começa em Glasgow, na Escócia, no domingo (31). Adiado devido à pandemia de Covid-19, a cúpula é considerada a mais importante desde a COP21, quando foi aprovado o Acordo de Paris.

Os apelos são cada vez mais intensos para que os governantes mundiais adotem medidas mais fortes e rápidas para frear o aquecimento do planeta, que já enfrenta catástrofes em série.

Incêndios na Sibéria e Califórnia, inundações devastadoras na Alemanha e na Bélgica, uma onda de calor impressionante no Canadá: a temperatura na Terra aumentou cerca de +1,1 °C desde a era pré-industrial e os seres humanos vivem as consequências dramáticas da mudança climática que provocaram nas últimas décadas.

O cientistas alertam que isso é apenas o começo e que cada fração de grau adicional provocará uma nova série de desastres. Diante do futuro sombrio previsto pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) da ONU, a solução é clara: reduzir as emissões de gases do efeito estufa em 45% até 2030 com o objetivo de limitar o aquecimento a +1,5 °C, a meta mais ambiciosa do Acordo de Paris, e prosseguir neste caminho até alcançar a neutralidade de carbono até 2050.

Mas segundo um relatório recente da ONU, mesmo com os novos compromissos dos Estados para 2030, o planeta se encaminha para um aquecimento de +2,7 °C, que seria catastrófico para a Terra.

Governos "não estão à altura"

Os governos "não estão à altura", afirmou o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, ao apontar para o G20, que representa 75% das emissões mundiais de poluentes e celebra uma reunião no fim de semana em Roma.

"É absolutamente central que todos os países do G20 apresentem antes de Glasgow ou em Glasgow contribuições compatíveis com +1,5 °C", destacou Guterres, que se declarou "profundamente preocupado" com a aproximação da COP26.

O mesmo é repetido pelos organizadores britânicos da reunião. "Estou preocupado porque isto pode acabar mal", declarou na segunda-feira o primeiro-ministro Boris Johnson, mas sem perder as esperanças.

Em Glasgow, onde devem se reunir na segunda-feira e terça-feira mais de 120 governantes, estarão presentes os presidentes dos Estados Unidos, Joe Biden, e da França, Emmanuel Macron, além dos primeiros-ministros indiano, Narendra Modi, australiano, Scott Morrisson, e canadense, Justin Trudeau.

O presidente russo, Vladimir Putin, não deve marcar presença, nem a rainha Elizabeth II, que renunciou ao encontro por recomendação médica após uma hospitalização. O presidente chinês, Xi Jinping, que não saiu de seu país desde o início da epidemia de Covid-19, ainda é esperado na COP26 pelo presidente do encontro, o britânico Alok Sharma.

Para pressionar os líderes, o grupo Extinction Rebellion e outras organizações já começaram a realizar ações antes mesmo do início da COP, na Escócia e em outros países. A jovem militante sueca Greta Thunberg convocou uma manifestação em Glasgow em 5 de novembro, uma marcha pela "justiça.

Metas evolutivas

O jornal francês Libération explica, nesta quinta-feira (28), que os negociadores pensaram no acordo como um "processo dinâmico": ao fim de ciclos de 5 anos, os países participantes aumentariam gradualmente seus objetivos para alcançar o esperado limite de 1,5°. A conferência de Glasgow marca o fim do primeiro ciclo.

Pensando em uma evolução, as metas fixadas pelos governos na COP 21, em Paris, não foram suficientemente ambiciosas. O objetivo principal da presidência britânica da COP26 seria então conseguir o compromisso dos Estados de limitar o aquecimento global.

Apesar dos países do G20 terem se comprometido em julho a apresentar metas mais ambiciosas de redução de CO2, alguns ainda não fizeram, entre eles, China, Arábia Saudita e Turquia.

Outros, como a Rússia, o Brasil, a Indonésia, o México e a Austrália trouxeram  metas insuficientes ou até mesmo diminuíram seus objetivos, como no caso do Brasil. "Presidido pelo climatocético Jair Bolsonaro, as promessas são três vezes menores que em 2015", diz o jornal. 

Justiça e Acordo de Paris

A questão da justiça é central na conferência mundial sobre o clima, na qual as organizações da sociedade civil denunciam as desigualdades de acesso vinculadas à pandemia de Covid-19.

Um ponto explosivo e central a ser tratado na COP 26 é o da solidariedade dos países do norte, historicamente responsáveis pelas emissões, com os do sul, que estão na linha de frente para enfrentar os impactos devastadores das mudanças climáticas. Os países ricos prometeram, em 2009, mobilizar US$ 100 bilhões para ajudar os países mais pobres a enfrentar a crise climática. Mas 12 anos depois, a promessa ainda não foi cumprida.

Talvez o ponto mais difícil a ser tratado na conferência seja a finalização do Acordo de Paris. Apesar de ambicioso, grande parte das regras do documento foram deixadas em aberto para serem definidas no futuro. "O que tentaremos fazer em Glasgow é na verdade muito duro", disse Alok Sharma. O grande desafio da conferência é o de delimitar as regras do jogo, para garantir uma aplicação rigorosa, sólida e justa do que foi decidido em Paris.

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