Esta sexta-feira (12) é oficialmente o último dia da Conferência do Clima de Glasgow, mas as negociações entre os 196 países podem acabar se estendendo pelo fim de semana, em meio a uma forte queda de braços entre os países industrializados e aqueles em desenvolvimento. O novo rascunho de declaração final divulgado nesta manhã tem uma linguagem diluída sobre alguns dos temas mais cruciais da cúpula.
Esta sexta-feira (12) é oficialmente o último dia da Conferência do Clima de Glasgow, mas as negociações entre os 196 países podem acabar se estendendo pelo fim de semana, em meio a uma forte queda de braços entre os países industrializados e aqueles em desenvolvimento. O novo rascunho de declaração final divulgado nesta manhã tem uma linguagem diluída sobre alguns dos temas mais cruciais da cúpula.
O documento mantém a menção inédita e histórica de que os países abandonem progressivamente o uso de combustíveis fósseis, responsáveis por nada menos do que 90% das emissões globais de CO2. Mas diante da forte resistência de grandes produtores de petróleo e gás, como Arábia Saudita e Rússia - que queriam a retirada completa desta menção -, o tom foi remodelado.
"É um texto que trata basicamente de criar novos processos, mas sem um conteúdo decisivo", resume Tasso Azevedo, especialista do Observatório do Clima.
O objetivo de levar os países a reverem as metas de redução de emissões já no ano que vem também se transformou em um "reconhecimento" de que "ações rápidas, profundas e continuadas" para a queda de 45% das emissões globais até 2030 e a neutralidade de carbono até meados do século são condições para manter vivo o objetivo de um aumento de, no máximo, 1,5ºC da temperatura do planeta, até 2100.
Diante da oposição dos países em desenvolvimento, o texto reconhece que a atualização das metas deverá considerar "diferentes circunstâncias nacionais".
Promessas estão "longe de bastarem" para garantir o 1,5ºC.
Os cientistas advertem, entretanto, que sem um compromisso para prever novos cortes de CO2 na declaração final da COP, o objetivo do 1,5ºC - o mais ambicioso do Acordo de Paris - fica cada vez mais distante de ser cumprido. As emissões mundiais seguem em alta - de cerca de 13% desde 2010.
Os anúncios feitos até agora, portanto, são insuficientes para garantir que a temperatura global subirá menos do que 2ºC. A Agência Internacional de Energia (AIE) estima que é possível garantir 1,8ºC, mas a maioria dos cientistas avaliam que a projeção real é de 2,4ºC. Os mais pessimistas chegam a uma estimativa de 2,7ºC, o que ocasionaria mudanças do clima severas, com um aumento ainda maior dos fenômenos extremos como furacões e enchentes.
Na quinta-feira, o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, afirmou à agência Associated Press que a meta do Acordo de Paris está "em risco de vida", porque as promessas dos países estão "longe de bastarem".
Financiamento travado
Os outros pontos mais delicados das negociações são a definição do financiamento para os países pobres promoverem a transição ecológica e as regras de um mercado de internacional de créditos de carbono.
Na parte de financiamento, o rascunho da declaração divulgado nesta manhã está desidratado - um sinal do quanto as negociações seguem travadas. O documento admite que a promessa de US$ 100 bilhões dos países ricos ainda não foi cumprida, mas apenas incita "com urgência" os países a disponibilizarem o dinheiro até 2025.
"É patético. Atualmente, já precisa de muito mais do que esses US$ 100 bi", critica Azevedo, que ainda ressalta a falta de mecanismos de transparência para garantir o financiamento e o cumprimento dos compromissos, em troca dos recursos.