Um ataque aéreo russo contra um prédio do governo em Kharkiv, segunda maior cidade da Ucrânia, deixou ao menos dez mortos e 20 feridos, segundo autoridades ucranianas. A ação do Exército russo foi registrada em imagens e marca o sexto dia da invasão da Rússia. O presidente da Ucrânia, Volodimir Zelensky disse que o ataque à cidade mostra que a Rússia está praticando "terrorismo".
Capital do país, Kiev continua sob tensão e é vista por Zelensky como principal foco da Rússia. Um comboio russo foi identificado nas proximidades da capital, mantendo pressão sobre Kiev. Sirenes têm sido acionadas constantemente para alertar a população, pedindo para que as pessoas se dirijam para abrigos de defesa.
A região da capital terá novo toque de recolher entre as 20h de hoje e as 7h de quarta (2), no horário local. A administração de Kiev pede que as pessoas respeitem o toque de recolher porque "há batalhas pesadas em algumas regiões" .
A 100 quilômetros de Kharkiv, ao menos 70 soldados ucranianos foram mortos após o ataque a uma base militar em Okhtyrka.
Mais de 660 mil pessoas já deixaram a Ucrânia em razão do conflito na região, segundo o Acnur (Alto Comissariado da Organizações das Nações Unidas para os Refugiados). Cerca de um milhão de pessoas fugiram de suas casas, mas continuam no país, segundo o órgão.
Ataque em Kharkiv
O exército russo bombardeou o centro de Kharkiv, perto da fronteira com a Rússia, anunciou hoje o governador da região, Oleg Sinegubov.
Kharkiv é uma cidade de 1,4 milhão de habitantes, com uma grande população de língua russa. A cidade está sob cerco intenso desde que o presidente russo, Vladimir Putin, ordenou a invasão contra a Ucrânia na quinta-feira passada (24). Essa é a segunda vez que Kharkiv é alvo de um grande ataque russo desde o início da guerra, mas, até o momento, o comando municipal da localidade permanece nas mãos dos ucranianos. Fontes militares apontam que o foco do ataque era a equipe que está guiando a defesa da cidade.
O prédio do governo atingido fica localizado na principal praça de Kharkiv, no centro da cidade. Segundo a agência Interfax, foguetes também atingiram parte de uma área residencial. Segundo informações do governo ucraniano, o trabalho de resgate continua no local.
"Esta manhã, a praça central de nossa cidade e a sede do governo local de Kharkiv foram atacadas de forma criminosa", afirmou Sinegubov no Telegram.
"O ocupante russo continua usando armas pesadas contra a população civil", disse Sinegubov, que publicou imagens da enorme explosão. O teto de teatro de ópera próximo ao local ficou destruído pelas chamas.
O presidente Zelensky, por sua vez, declarou que "não havia nenhum alvo militar na praça, assim como naquelas áreas residenciais de Kharkiv". "Um míssil na praça central é terror puro. Ninguém vai perdoar. Ninguém vai esquecer. Um ataque a Kharkiv é um crime de guerra. Este é um terrorismo de estado russo."
Comboio se aproxima de Kiev
Ontem, imagens de satélite mostravam um comboio russo de 27 quilômetros de extensão a menos de 50 km dos limites de Kiev.
Na capital, as milícias ucranianas instalaram barricadas improvisadas e programaram os painéis eletrônicos nas estradas para advertir os russos que serão "recebidos a tiros". Porém, uma parte dos milicianos fugiu em meio ao grande êxodo de civis.
Zelensky disse acreditar que a capital é o principal objetivo do exército russo. "Para o inimigo, Kiev é um alvo chave. Portanto, a capital está constantemente sob ameaça", disse em uma mensagem de vídeo na noite de segunda-feira. Para ele, os russos querem deixar Kiev sem eletricidade, mas diz que os ataques serão neutralizados.
Somente na segunda-feira (28), o canal oficial da Prefeitura de Kiev no Telegram anunciou 13 alertas de ataques aéreos. Novos alertas já foram feitos nesta terça. A cidade está sob toque de recolher entre 20h e 7h locais (15h a 2h de Brasília).
Na região próxima à Kiev, uma maternidade foi atingida pelas forças lideradas por Putin. O hospital está situado no vilarejo de Buzova, na rodovia Zhytomyr, onde ocorrem fortes combates, segundo reportou o Kyiv Independent.
O gestor da maternidade, Vitaliy Girin, publicou uma mensagem no Facebook dizendo que o prédio foi evacuado e não há relatos de feridos até o momento.
Rússia vai manter ofensiva
Hoje, a Rússia informou que continuará a ofensiva na Ucrânia, anunciou o ministro da Defesa, Serguei Shoigu. "As Forças Armadas continuarão a operação militar especial até que sejam cumpridos os objetivos fixados", afirmou Shoigu.
Os russos alegam que querem a "desmilitarização" da Ucrânia, assim como proteger a Rússia de uma "ameaça militar criada pelos países ocidentais", segundo o ministro. A Rússia também exige que armas nucleares dos Estados Unidos na Europa sejam retiradas.
Soldados mortos
Em Okhtyrka, cidade localizada na região de Sumy, nordeste ucraniano, pelo menos 70 soldados da Ucrânia foram mortos após as forças russas atacarem uma base militar.
Okhtyrka fica a 49 quilômetros da fronteira com a Rússia, e situada a 100 quilômetros de distância de Kharkiv. Os ataques na cidade aconteceram na segunda-feira (28), mas as informações só foram repassadas hoje por autoridades locais.
Segundo Dmytro Zhyvystkyy, chefe da administração regional de Sumy, foram retiradas dezenas de corpos de soldados ucranianos para serem enterrados. Zhyvystkyy afirmou que "o inimigo também teve o que merecia", com baixas nas tropas de Moscou, mas sem informar um número preciso de soldados russos mortos no embate travado em Oktyrka.
Falta de energia
A falta de energia já é a realidade em Mariupol, cidade no leste da Ucrânia. Ela ficou sem abastecimento de energia elétrica depois de uma ofensiva russa, anunciou o governador da região, Pavlo Kirilenko. "As duas cidades estão sob pressão do inimigo, mas estão resistindo. Em Mariupol, as linhas de energia foram cortadas e a cidade está sem eletricidade."
Mariupol é um porto estratégico onde vivem quase meio milhão de pessoas. A cidade foi cenário de um conflito em 2014, quando foi ocupada pelos separatistas pró-Rússia e depois retomada pelas forças ucranianas.
Cerco em Kherson
O exército da Rússia também está nas proximidades da cidade ucraniana de Kherson, sul do país, declarou na madrugada desta terça-feira o prefeito Igor Kolikhayev. "O exército da Rússia está instalando pontos de controle nas entradas de Kherson. É difícil dizer como a situação vai evoluir", afirmou o prefeito em sua página no Facebook. "Kherson é e continuará sendo ucraniana. Kherson resiste", destacou.
Nas redes sociais, vídeos mostram as forças russa entrando na cidade de 290.000 habitantes que fica ao norte da península da Crimeia. A partir deste território, anexado por Moscou em 2014, as tropas russas avançaram em território ucraniano e, durante o fim de semana, tomaram o controle de Berdiansk, no Mar de Azov, e cercaram Kherson.
"Estou em meu gabinete para coordenar os serviços municipais para que possamos acordar em uma cidade relativamente pacífica", disse, antes de pedir aos cidadãos que permaneçam "tranquilos e prudentes". "Não provoquem conflitos com os opositores (...) Não é uma batalha, é uma guerra. E a guerra se vence com atos razoáveis e com sangue frio", insistiu.
Boicote
A intervenção do chanceler russo, Serguei Lavrov, foi boicotada por muitas delegações, incluindo a da Ucrânia e de vários países ocidentais, boicotaram nesta terça-feira no momento em que era exibido seu discurso na Conferência de Desarmamento da ONU (Organização das Nações Unidos), deixando a sala praticamente vazia nesta terça.
Os diplomatas abandonaram a sala no início do discurso de Lavrov, uma gravação. O ministro russo pretendia viajar a Genebra, na Suíça, mas cancelou a visita alegando as "sanções antirrussas" que proíbem aviões do país de sobrevoar o espaço da União Europeia.