As delegações de Rússia e Ucrânia fizeram uma "pausa técnica" nas negociações após a reunião de hoje para tratar sobre a invasão russa ao território ucraniano. Ela deverá ser retomada na terça-feira (15). "Uma pausa técnica foi feita nas negociações até amanhã", escreveu o assessor da presidência da Ucrânia, Mikhailo Podolyak, em mensagem no Twitter.
O período será utilizado para debate de pontos em subgrupos de trabalho. "As negociações continuam...", completou. Apesar dos diálogos, novos ataques foram registrados pelo país nesta segunda-feira, inclusive na capital ucraniana, Kiev.
Um prédio foi atingido nesta manhã e, segundo as autoridades locais, o ataque deixou nove mortos e nove feridos. O chefe da administração local, Vitaly Koval, afirmou à imprensa que "dois mísseis" atingiram a torre de televisão na cidade de Antopil, a 15 km a leste de Rivne, no oeste do país.
O Kremlin afirmou hoje, por meio de seu porta-voz Dmitry Peskov, que a Rússia "não exclui a possibilidade" de assumir controle total das principais cidades da Ucrânia. O governo russo afirma que tem poderio militar suficiente para cumprir seus objetivos na Ucrânia sem recorrer à ajuda da China.
A região da capital terá toque de recolher entre a noite de hoje e a manhã de terça-feira. Para o Ministério da Defesa ucraniano, a Rússia está em processo de "reagrupamento para retomar a ofensiva em direção a Kiev". Nesta segunda (14), o governo russo disse que não descarta tomar o "controle total" das principais cidades ucranianas.
Hoje, o conflito na Ucrânia chega ao 19º dia, com o governo ucraniano fazendo mais corredores para evacuação de pessoas e envio de suprimentos a regiões afetadas pela ação de forças russas. Em áreas dominadas por separatistas, como Donetsk, também há registros de ataques. Segundo a ONU (Organização das Nações Unidas), a Ucrânia já tem 2,8 milhões de refugiados.
Mais cedo, o secretário-geral da ONU, António Guterres, disse que a Rússia atacou 24 instalações de saúde e milhares de pessoas estão sem água e eletricidade em cidades ucranianas.
Guterres afirmou ainda que o impacto dos ataques aos civis está "atingindo proporções aterrorizantes".
Nova reunião
Representantes de Ucrânia e Rússia fizeram uma nova rodada de conversas nesta segunda em formato virtual. Esta foi a quarta rodada de debates. "A comunicação está sendo realizada, mas é difícil", escreveu Podolyak. A Ucrânia quer "paz, cessar-fogo, retirada imediata das tropas e garantias de segurança".
O assessor ucraniano disse, mais cedo, que, "embora a Rússia perceba o absurdo de suas ações agressivas, ainda tem a ilusão de que 19 dias de violência contra cidades pacíficas é a estratégia certa". Para Podolyak, "a razão para a discórdia são sistemas políticos muito diferentes".
Ontem, um ataque a uma área militar perto da fronteira da Ucrânia com a Polônia, país que faz parte da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), fez o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky cobrar, mais uma vez, uma zona de exclusão aérea no país. Hoje, exercícios militares envolvendo a Otan foram realizados na Noruega.
A expectativa é que essa e outras demandas possam aparecer no discurso virtual que Zelensky fará na quarta-feira ao Congresso dos Estados Unidos, conforme anunciado hoje pelos líderes democratas da Câmara e do Senado.
O ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmytro Kuleba, escreveu hoje, no Twitter, uma mensagem "para aqueles no exterior com medo de serem 'arrastados para a Terceira Guerra Mundial'".
"Precisamos de você para nos ajudar a lutar. Forneça-nos todas as armas necessárias. Aplique mais sanções à Rússia e isole-a totalmente. Ajude a Ucrânia a forçar [o presidente russo, Vladimir] Putin a fracassar e você evitará uma guerra maior", disse. A Ucrânia diz que 90 crianças já foram mortas no conflito.
Ataque a Kiev
Um prédio na capital ucraniana foi atingido por volta das 5h, horário local (0h, em Brasília), segundo o serviço de emergências do país. Apartamentos ficaram em chamas. Duas horas, depois, as equipes de resgate encontraram um corpo.
Uma outra morte foi relata pela prefeitura de Kiev. Ela foi decorrente da queda de destroços de um foguete em uma estrada em Kurenivka, na capital.
"Os ocupantes russos continuam acumulando tropas e equipamentos, bombardeando conjuntos habitacionais e infraestrutura crítica", disse Oleksiy Kuleba, chefe da administração militar regional de Kiev, sobre a situação na região que envolve a capital.
A área de Kiev terá um toque de recolher entre as 20h de hoje e 7h de amanhã, horário local (das 15h às 2h, em Brasília). A administração regional pediu para que se use o mínimo de luz nesse período.
Mortes em área separatista
Os separatistas pró-Rússia de Donetsk, leste da Ucrânia, afirmaram que, nesta segunda, um ataque ucraniano deixou pelo menos 20 mortos e nove feridos no centro da cidade.
Em sua conta no Telegram, a defesa territorial de Donetsk publicou fotos que mostram corpos ensanguentados em uma rua, entre escombros. A mensagem afirma que a defesa aérea da região separatista interceptou um míssil ucraniano e os "estilhaços" atingiram vítimas.
O Ministério da Defesa da Rússia também criticou o ataque, que teria sido feito com "um míssil tático Tochka-U", disparado contra uma área residencial da cidade de Donetsk". "O uso de tais armas em uma cidade onde não há postos de tiro das Forças Armadas, ou seja, obviamente contra a população civil, é um crime de guerra."
Outros ataques
Também houve ataque a Zhytomyr, cidade localizada 150 quilômetros a oeste de Kiev. Prédios administrativos foram atingidos por mísseis, de acordo com o serviço de emergências. Cerca de 7 edifícios foram danificados. Relatos iniciais apontam quatro pessoas feridas.
Em Kharkiv, a segunda maior cidade da Ucrânia, um ataque aéreo atingiu um edifício residencial de quatro andares, segundo o serviço de emergências. Até o momento, não há informações sobre feridos. Kharkiv fica 480 quilômetros a leste de Kiev e tem sido alvo constante de ataques de forças russas.
Torre de TV atingida
Uma torre de transmissão de sinal de televisão foi danificada após um ataque em Rivne, 340 quilômetros a oeste de Kiev, segundo o serviço de Comunicações Especiais e Proteção da Informação da Ucrânia. Segundo as autoridades, nove pessoas morreram e outras nove ficaram feridas no ataque.
"Especialistas já estão fazendo todo o possível para retomar a transmissão dos canais de TV ucranianos", diz o comunicado do serviço, que lembra que a população pode ter acesso aos canais de televisão também por satélite e transmissões via internet ou a cabo.
Um transmissor também foi atingido em Stavyshche, 140 quilômetros ao sul da capital. "As tropas russas continuarão bombardeando a infraestrutura civil da região de Kiev", disse a administração regional de Kiev. Até o momento, não há relato de vítimas.
Corredores
Vice-primeira-ministra da Ucrânia, Iryna Vereshchuk anunciou os corredores humanitários desta segunda.
Na região de Kiev, há rotas de Bogdanovka, Nova Bogdanovka, Peremoha e Bobryk para Brovary, e de Gostomel, Nemishayeve, Vorzel e Dmytrivka para Belogorodka.
Na área de Luhansk, leste do país, um corredor sai de Severodonetsk, Popasna e Gorskoe para Slavyansk.
Mais ao sul, haverá um trajeto entre Zaporozhzhia e Mariupol. Segundo Vereshchuk, o comboio com carga humanitária tentará seguir em direção a Mariupol via Berdyansk.
Rússia e China
A Rússia —que tem criticado as sanções econômicas impostas por diversos países— pediu à China ajuda militar e econômica para a guerra na Ucrânia, segundo a imprensa dos Estados Unidos. O governo americano fez uma advertência ontem aos chineses sobre "sérias consequências" em caso de apoio a Moscou. Pequim reagiu nesta segunda-feira com indignação às informações, mas não as desmentiu de maneira especificamente.
A China não condenou diretamente a invasão da Ucrânia por Moscou e culpou repetidamente a "expansão para o leste" da Otan pelo agravamento das tensões entre Kiev e Moscou, uma das principais demandas de Putin. A China insistiu na semana passada que a amizade coma Rússia permanece "sólida como uma rocha" e também expressou o desejo de atuar como mediador para acabar com a guerra.