O presidente russo, Vladimir Putin, assinou, nesta quinta-feira (31), um decreto ordenando a convocação de 134.500 novos recrutas para o Exército da Rússia, que, há 36 dias, está em guerra com a Ucrânia. Segundo a agência Reuters, o Ministério da Defesa russo disse que a convocação não tem relação com a guerra. Em 9 de março, porém, o ministério reconheceu que alguns recrutas foram enviados para a Ucrânia.
Do lado ucraniano, sem notar uma diminuição na atividade militar da Rússia, o Ministério da Defesa da Ucrânia observa um "movimento de equipamentos militares" das forças russas em Belarus, país, em sua fronteira, que é aliado dos russos. Para o ministério, isso acontece "provavelmente com o objetivo de reagrupar unidades, além de criar uma reserva para repor perdas em mão de obra, armas e equipamentos de grupos operando na Ucrânia".
"Os principais esforços do inimigo estão focados em manter as fronteiras ocupadas, preparando a retomada das operações ofensivas em certas áreas, e estabelecendo o controle total sobre o território das regiões de Donetsk e Lugansk", disse o ministério ucraniano, citando as regiões separatistas —líderes pró-Rússia reivindicam avanços nessa áreas. A Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) também espera mais ataques. Amanhã, russos e ucranianos devem ter mais uma reunião para negociações.
A guerra entrou, nesta quinta-feira (31), em seu 36º dia. Chefe de gabinete da Presidência da Ucrânia, Andriy Yermak cobrou hoje um apoio efetivo dos aliados. "Concentro-me na necessidade de explicar aos parceiros que a Ucrânia precisa de mais armas hoje. Esta é uma prioridade para nós agora". Para ele, isso é fundamental para a "vitória e o fim da guerra".
"O Ocidente precisa ouvir isso e fazer mais. Porque em vez de palavras de apoio, precisamos agir de forma mais ativa."
Zelensky critica "rotina"
O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, também lamentou que a situação na Ucrânia tenha se transformado em algo trivial para algumas pessoas pelo mundo, que acompanham o número de mortes e ataques em razão do conflito. "Não importa o quão assustador possa parecer, as pessoas já estão começando a se acostumar com isso", disse hoje ao Parlamento da Ucrânia ao mencionar os 36 dias da guerra, que entra em sua sexta semana.
"A guerra na Ucrânia está se tornando uma rotina. Infelizmente. Mas isso é verdade: uma rotina. Mas não para aqueles cujas vidas estão sob ameaça a cada minuto."
Nova reunião
Chefe da delegação ucraniana nas negociações com a Rússia, David Arakhamia disse hoje que as negociações serão retomadas, de forma virtual, amanhã (1º); o governo russo ainda não confirma.
Ele também indicou que, após as reuniões na Turquia, "agora é necessária uma reunião dos líderes dos dois estados", em referência a Zelensky e ao russo Vladimir Putin. Para a Rússia, é preciso que haja um avanço a respeito de um tratado para isso.
O governo turco disse que tem negociado, com os ministros das Relações Exteriores dos dois países, a organização de uma nova reunião para daqui uma ou duas semanas. "Fizeram-se progressos significativos nas conversações em Istambul, mas nesta fase não vemos a implementação no terreno dos resultados que foram anunciados no final da reunião em Istambul", disse Mevlut Cavusoglu, chanceler turco.
Ucrânia acusa Belarus
Assessor do Ministério do Interior da Ucrânia, Vadym Denysenko disse hoje que os "russos começaram a usar o aeroporto de Brest para bombardear nossos territórios", em referência a uma cidade de Belarus que fica perto da fronteira com a Ucrânia. A informação não pôde ser verificada com fontes independentes.
O governo ucraniano está negociando com a Polônia o fechamento da fronteira com Belarus. Os poloneses também são vizinhos do país aliado de Putin.
Tensão em Kiev
Após o fim de mais um toque de recolher, a região de Kiev, mais uma vez, não terá corredores para evacuação, anunciou a administração local. Kiev é a capital da Ucrânia. O Centro de Comunicações Estratégicas e Segurança da Informação apontou que houve bombardeios nas cidades de Irpin e Makariv, próximas da Kiev.
Segundo relatório da inteligência do Ministério da Defesa do Reino Unido, "as forças russas continuam a manter posições a leste e oeste de Kiev, apesar da retirada de um número limitado de unidades". "Combates intensos provavelmente ocorrerão nos subúrbios da cidade nos próximos dias".
Os britânicos também apontaram que "os combates intensos continuam em Mariupol, um objetivo chave das forças russas". "Mas as forças ucranianas permanecem no controle do centro da cidade." Hoje, o governo ucraniano fará uma nova tentativa de tirar civis da cidade portuária.
Segundo o Ministério da Defesa da Ucrânia, seu exército "continua realizando uma operação de defesa nas direções leste, sudeste e nordeste". "Em todas as direções, o inimigo é contido com sucesso pelas Forças Armadas da Ucrânia; em algumas, nossas tropas estão realizando contra-ataques bem-sucedidos."
Ataques russos
Em seu relatório, o Ministério da Defesa da Rússia indicou que atacou a área de Chernihiv, no norte do país, local em que, junto com Kiev, haveria uma redução radical da atividade militar, como havia sido prometido na terça-feira (29).
Em seu relatório de hoje, o governo russo disse que a "defesa aérea das Forças Aeroespaciais abateu 18 veículos aéreos não tripulados ucranianos no ar", citando Chernihiv como uma das localidades. Sem especificar todas as áreas atingidas, a Rússia também disse que "aeronaves tático-operacionais e não tripuladas atingiram 52 instalações militares da Ucrânia".
Uma unidade militar foi atingida por um míssil em Dnipropetrovsk, a cerca de 480 quilômetros de Kiev. Segundo informações iniciais da administração local, ao menos duas pessoas morreram; cinco ficaram feridas.
Sobre Chernihiv, o centro de comunicações da Ucrânia disse que houve "batalhas defensivas na cidade e bombardeios diurnos nos subúrbios". "Os moradores da região permanecem em condições extremamente difíceis de sobrevivência."
Depósitos de combustível também estiveram no alvo do exército russo. O objetivo seria prejudicar o abastecimento das forças ucranianas que atuam no leste do país, áreas separatistas, que a Rússia indicou ser o alvo desta nova fase da guerra.
Bombardeios em Lugansk
Segundo o serviço de emergências da Ucrânia, ao menos uma pessoa morreu na cidade de Sievierodonetsk, na área separatista de Lugansk, a cerca de 730 quilômetros de Kiev. Uma casa foi destruída após um bombardeio. A vítima foi retirada dos escombros sem vida.
Na mesma cidade, uma escola também foi incendiada. Em Lysychansk, que também fica em Lugansk, o alvo foi um "reservatório de produtos petrolíferos", segundo o serviço de emergências.
Odessa em alerta
Porta-voz da Administração Militar Regional de Odessa, Serhii Bratchuk disse, hoje, que a Rússia estaria colocando mais mísseis em navios de guerra que estão na Crimeia, região controlada pelos russos. Para Bratchuk, "a probabilidade de ataques de mísseis em Odessa e outras áreas da nossa região permanece alta".
Na avaliação do porta-voz, o tipo de míssil que está sendo colocado nos navios russos é capaz de mudar sua trajetória várias vezes, o que torna mais difícil derrubá-lo. A informação não pôde ser verificada com fontes independentes.
O papel de Abramovich
Oligarca russo que participou das reuniões na Turquia na terça-feira (29), Roman Abramovich tem um papel positivo nas negociações, na avaliação de Arakhamia, chefe da delegação ucraniana.
"Para ser honesto, [o papel que ele desempenha] é muito positivo", disse. "Mas não entendo por que ele começou a desempenhar um papel público", completou, explicando, que, antes, Abramovich ajudava "a pronunciar algumas coisas complexas em linguagem humana normal, e não em diplomática". "Mas é mais uma pessoa nas negociações".