O presidente Jair Bolsonaro (PL), candidato à reeleição, participou de uma sabatina no Jornal Nacional da TV Globo na noite da última segunda-feira, 22 de agosto, e escreveu algumas palavras como “cola” em sua mão, com referências à Nicarágua e o doleiro Dario Messer, entre outros temas.
A estratégia de Bolsonaro na sabatina realizada pela TV Globo foi uma reedição do que ele próprio já havia feito nas eleições de 2018, quando escreveu as palavras “Deus, Família, Brasil” na palma da mão.
Na edição de ontem do Jornal Nacional, ele fez provocações à emissora, escrevendo “Nicarágua, Argentina, Colômbia e Dario Messer”. O primeiro país da lista vive uma situação de repressão do ditador Daniel Ortega aos cristãos, em especial católicos, com emissoras de rádio e igrejas sendo fechadas, e sacerdotes sendo presos.
Argentina e Colômbia são países governados por políticos de esquerda, e no caso do primeiro, há uma crise econômica considerada gravíssima. No caso da Colômbia, a posse do novo presidente foi marcada por um clima de divisão no país e pela promessa de impulsionar a ideologia de gênero.
A sabatina de Jair Bolsonaro no Jornal Nacional registrou o recorde de audiência do telejornal no ano, levando a emissora a 32,3 pontos, contra a média de 24,6 que vinha sendo registrada desde janeiro, segundo informações do portal Poder 360.
Doleiro da Globo
A menção de Bolsonaro no Jornal Nacional a Dario Messer, doleiro que foi preso pela Operação Lava-Jato e condenado a 13 anos de cadeia, é uma provocação direta à TV Globo.
Em seus depoimentos à Justiça, Dario Messer alega ter feito lavagem de dinheiro para os irmãos Marinho, que herdaram o Grupo Globo de seu fundador, Roberto Marinho, e conduzem a empresa.
Em 2020, a Record – emissora adversária e de propriedade do bispo Edir Macedo – veiculou reportagem com o depoimento de outro doleiro, Claudio Barbosa, que fechou delação premiada em 2018.
Na ocasião, ele reiterou as acusações de lavagem de dinheiro solicitada por Roberto Irineu Marinho e João Roberto Marinho, tendo como intermediário o então diretor financeiro José Aleixo: “Eles não me chamavam para pedir R$10 mil. Eram sempre valores de US$ 200 mil a US$ 300 mil em reais. […] A cada dez dias eram US$ 300 mil”, disse Barbosa.
“Eu tinha que entregar para alguém o dinheiro. Esse dinheiro, por acaso, era do ex-diretor da Globo. Anteriormente, como falou Dario Messer, a gente entregava na Rede Globo”, detalhou o doleiro, que contou ainda que as remessas eram feitas em quantias altas, em dinheiro vivo e movimentava milhões todos os dias.
Ainda na entrevista concedida à Record, Barbosa relatou que existia um esquema de segurança para o transporte dos valores, envolvendo carros blindados e transportadoras de valores.
Quando as quantias ficavam nas centenas de milhares de reais e precisavam ser entregues no centro do Rio de Janeiro, o esquema usava pessoas de confiança que carregavam até R$ 200 mil nas pernas, usando meias longas.
Em um período de cinco anos, o doleiro estima ter movimentado entre US$ 15 e US$ 20 milhões de dólares: “No caso da Globo, específico, com certeza era na sala do Aleixo. Porque eu chego na portaria e tem que identificar. Então eu sempre mandava um garoto antes, um funcionário, para ele chegar na portaria e [falar] para o guarda ‘olha, tenho que entregar algo para o José Aleixo”, descreveu o doleiro na ocasião.