"As mudanças climáticas e seus efeitos devastadores são bem reais", afirmou nesta segunda-feira (11) o Alto Comissário da ONU para os Direitos Humanos, alertando para o "horror ambiental". Em discurso na abertura da 54ª sessão do Conselho de Direitos Humanos, Volker Türk apelou à luta contra a impunidade "daqueles que destroem" o planeta.
"O futuro distópico já está aqui. Precisamos de ação urgente agora. E sabemos o que fazer. A verdadeira questão é: o que nos impede?", questionou ele, após o fracasso do encontro do G20 neste fim de semana em promover uma saída para a dependência dos combustíveis fósseis.
Volker Türk apelou para uma saída "rápida" dos combustíveis fósseis e saudou os esforços em todo o mundo destinados a integrar o crime de "ecocídio" no Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional.
Embora as alterações climáticas aumentem os movimentos populacionais, Volker Türk denunciou a "indiferença" face à tragédia dos migrantes nas rotas migratórias. "Estou chocado com a indiferença demonstrada perante as mais de 2.300 pessoas que foram declaradas mortas ou desaparecidas no Mediterrâneo este ano", disse ele, assegurando que um número muito maior de migrantes e refugiados morre em outras partes do mundo.
Ele apontou como exemplo situações "ao longo da fronteira entre os Estados Unidos e o México, bem como na fronteira com a Arábia Saudita", onde o Comissariado para os Direitos Humanos "pede esclarecimentos urgentes sobre as alegações de assassinatos e maus-tratos".
O Alto Comissário também denunciou "as mentiras e a desinformação" que, graças às novas tecnologias, "são produzidas em massa para semear o caos e a confusão, negar a realidade e garantir que nenhuma medida - que possa pôr em perigo os interesses das elites - seja tomada". Neste sentido, "o caso mais óbvio são as alterações climáticas", disse ele.
"Choque de civilizações"
O Alto Comissário também elaborou uma longa lista de violações dos direitos humanos em todo o mundo, visando muitos países, incluindo a China e o Irã. No que diz respeito à China, ele lembrou que os "recentes desafios econômicos do país sublinham a necessidade de uma abordagem mais participativa que respeite todos os direitos humanos - incluindo os direitos dos membros das minorias étnicas, das comunidades rurais, dos trabalhadores migrantes internos, dos idosos e das pessoas com deficiência".
Türk ainda denunciou a multiplicação de políticas destinadas a dividir o mundo através da "criação de conflitos artificiais sobre gênero, migração ou um choque de civilizações".
O Alto Comissário da ONU para Direitos Humanos ainda disse ser a favor de uma investigação internacional sobre a explosão ocorrida, há três anos, no porto de Beirute, deplorando que "nenhuma responsabilidade tenha sido estabelecida" neste caso. Volker Türk também afirmou estar "profundamente chocado com a escalada de violência" nos territórios palestinos ocupados.
Com relação ao Irã, o responsável da ONU criticou a proposta de lei da obrigatoriedade do véu islâmico para as mulheres.
O Alto Comissário falou muito pouco sobre a guerra na Ucrânia, mas terá a oportunidade de voltar ao tema quando a comissão internacional de inquérito se dirigir ao Conselho, em 25 de setembro. A situação dos direitos humanos na Rússia também será discutida durante a apresentação do relatório, em 21 de setembro.
Entre outras situações que devem ser discutidas no Conselho estão a Síria, Mianmar, Afeganistão, Haiti, Nicarágua e Sudão, sobre as quais alguns países poderiam propor uma investigação internacional.