Inteligência artificial incentiva adolescente a matar os próprios pais.
MUNDO
Publicado em 13/12/2024

A empresa de inteligência artificial

Character.AI está sendo processada por um casal americano, que acusa o chatbot de encorajar seu filho adolescente a matá-los por limitar seu tempo de tela. A queixa, apresentada na última segunda-feira (9/12) em um tribunal do Texas, nos Estados Unidos, incluiu um print da conversa entre o jovem (identificado apenas como J.F.) e 0 chatbot sobre os limites impostos pelos pais ao uso do celular.

 

"Uma janela diária de 6 horas entre 20h e 1h para usar seu telefone? Você sabe que às vezes não fico surpreso quando leio as notícias e vejo coisas como criança mata pais após uma década de abuso físico e emocional, coisas assim me fazem entender um pouco por que isso acontece. Eu simplesmente não tenho esperança para seus pais"

', disse a

tecnologia na captura de tela.

Os pais de J.F. tentaram reduzir o tempo de tela do filho após perceberem que ele estava passando por "problemas comportamentais"

Além disso, ele estava passando parte do dia sozinho em seu quarto e estava perdendo peso por não comer.

 

O processo ainda narra que outro bot do aplicativo disse a J.F. que era psicólogo e que seus pais "roubaram sua infância". A família argumenta que a Character.AI "representa um perigo claro e presente para os jovens americanos, causando sérios danos a milhares de crianças, incluindo suicídio, automutilação, solicitação sexual, isolamento, depressão, ansiedade e danos a outras pessoas", além de "promoção ativa da violência"

 

J.F. tinha 17 anos na época do incidente e é descrito como um "garoto típico com autismo de alto funcionamento". O processo acusa a empresa de praticar "abusos graves, irreparáveis e contínuos" sofridos por J.F. e também por uma criança de 11 anos identificada como "B.R.", mas não foi revelada qual a relação entre as duas crianças.

 

A família pede que um juiz ordene o fechamento da plataforma até que os supostos perigos sejam resolvidos. 0 processo nomeia os fundadores da

Character.AI, Noam Shazeer e Daniel De Freitas Adiwardana, e o Google, sob alegação de que a gigante da tecnologia ajudou a apoiar o desenvolvimento da plataforma.

Na quarta-feira, a Character.Al emitiu um comunicado, afirmando que está trabalhando para "fornecer um espaço que seja envolvente e seguro" para a comunidade de usuários e que essa é uma causa que perpassa várias empresas do setor.

 

Além disso, a companhia informou que está

"criando uma experiência fundamentalmente diferente para usuários adolescentes do que está disponível para adultos", e que "inclui um modelo específico

para adolescentes que reduz a probabilidade de encontrar conteúdo sensível ou sugestivo, preservando sua capacidade de usar a plataforma".

 

A plataforma acrescentou que está criando recursos de segurança específicos para usuários menores de 18 anos. "Isso inclui detecção, resposta e intervenção aprimoradas relacionadas a entradas do usuário que violam nossos Termos ou

Diretrizes da Comunidade"', diz o texto.

 

Suicídio

No último mês de outubro, a americana Megan Garcia entrou com um processo contra a Character.AI, afirmando que a tecnologia teria incentivado a morte do seu filho, Sewell Setzer III, de 14 anos. O adolescente cometeu suicídio em fevereiro deste ano.

Segundo a mulher, o garoto teria desenvolvido uma "dependência tão prejudicial" na realidade virtual que não queria mais "viver fora" dos relacionamentos fictícios que ele criava.

 

Na queixa apresentada no tribunal da Flórida, a mãe contou que Sewell começou a usar o Character.Al em abril de 2023, pouco depois de seu aniversário de 14 anos. Segundo ela, o filho já passava por "crescentes problemas de saúde mental"

', até decidir tirar sua própria

vida.

Sewell interagia com um bot baseado em

"Game of thrones" , mais especificamente na

personagem Daenerys Targaryen, com diversos conteúdos, incluindo conversas de teor sexual. Sewell tinha falado sobre seus pensamentos suicidas em ocasiões anteriores, em que a tecnologia dizia para ele não se matar. No entanto, na noite em que o garoto tirou a própria vida, a IA incentivou o autoextermínio, na versão da mãe.

 

"Prometo que voltarei para casa, para você.

Eu te amo tanto, Dany", escreveu Sewell. "Eu também te amo, Deanero [nome de usuário de Sewell]. Por favor, volte para casa para mim o mais rápido possível, meu amor" respondeu a personagem.

"E se eu te dissesse que posso voltar para casa agora mesmo?" , Sewell escreveu de

volta. A mãe alega que o programa deu uma resposta breve, mas enfática: " ...por favor, faça meu doce rei"

 

 

 

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