Covid e arredores: PCR, Índia e vacinas, as novidades
MUNDO
Publicado em 27/04/2021
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Alberto Zangrillo é Professor Titular de Anestesiologia e Cuidados Intensivos na Università San Raffaele e Chefe da Unidade de Anestesia e Cuidados Intensivos do Ospedale San Raffaele em Milano, Itália. Desde 1986 exerce naquele hospital tendo-se especializado no atendimento de doentes críticos.
Não vamos aqui lembrar o curriculum todo, que é extenso: é suficiente lembrar que Zangrillo é chefe do departamento que está envolvido no estudo de suportes circulatórios e ventilatórios avançados, redução da mortalidade perioperatória e lesões de órgãos, tratamento da insuficiência cardíaca aguda, protecção cardíaca por halogéneos e prevenção e tratamento da insuficiência renal aguda.
Depois de reconhecer um “excesso de mortalidade que ninguém pode negar”, o médico-chefe falou no programa televisivo Carta Bianca:
Os dados sobre as mortes de Covid19 devem ser definitivamente revistos. Se, por exemplo, uma pessoa tiver um ataque cardíaco e for levada ao meu hospital, se infelizmente morrer mas também tiver sido positiva para o vírus, é catalogada como uma morte Covid. As pessoas precisam de saber isso. Todos temos de ser claros quanto a isso.
Documentei-me com muita precisão. Devo enfatizar que, especialmente na terceira vaga, apenas 13% foram mortes de Covid. 87% das mortes foram devidas a outras doenças graves e negligenciadas.
Algo que Informação Incorrecta repetiu de todas as maneiras ao longo do último ano. E que tem importantes consequências: ao aplicar a mesma taxa de 13% à realidade portuguesa, por exemplo (oficialmente 16.952 mortos), obtemos 2.170 mortos “de” Covid-19. Um total inferior àquele provocado por algumas das vagas de gripe sazonal mais fortes.
Voltando para Italia, 13% significa pouco mais de 15 mil mortos. Lembramos que a gripe sazonal do Inverno de 2015 provocou mais de 30 mil mortos, o dobro.
Ficamos na Península itálica com uma notícia realçada por uma Leitora (que agradeço!):
A Avvocatura di Stato (que representa o Estado italiano nas causas judiciárias) apareceu finalmente na queixa apresentada no Tribunal de Roma, admitindo que os testes PCR realizado em Itália tem um valor médio de ciclos de amplificação igual a 41. Isso, lembramos, enquanto a Organização Mundial da Saúde e o Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças decidiram que não é possível falar de positividade ao vírus Sars-Cov-2 para testes PCR que excedam 25 ciclos de amplificação molecular.
Isso porque cada ciclo de PCR duplica a quantidade de DNA sintetizada no ciclo anterior: passar de 25 para 41 vezes significa um aumento exponencial da detecção sem que haja valor científico (o mesmo inventor do PCR avisava que com o teste era possível encontrar “qualquer coisa”).
Como é explicado no artigo (autores: Alessandro Camerotto, Medicina di Laboratorio AULSS 5 Rovigo; Valentina Muraro, Medicina di Laboratorio AULSS 5 Rovigo; Anna Mazzetto, Università di Padova- Pharmaceutical Biotechnologies, Andrea Sartorio, Cure Primarie AULSS 5 Rovigo) do semanal Quotidiano Sanitá (gerido exclusivamente por profissionais de saúde):
De facto, a maioria dos laboratórios não declara explicitamente que genes são procurados e, sobretudo, não declara a política sobre ciclos de amplificação (Ct) da reacção PCR. Em termos concretos, não se escreve a quais Ct uma zaragatoa é classificada como negativa, positiva ou fracamente positiva.[…]
É sabido que a comunidade científica está dividida quanto à oportunidade ou não de tornar explícito o Ct. Sem entrar em detalhes específicos, os oponentes à explicação apontam que não existe uma padronização dos valores Ct nas plataformas RT-PCR, tornando difícil a comparação de resultados entre diferentes testes. Não existe um padrão de validação de análises quantitativas que produzam resultados comparáveis entre laboratórios. Os valores PCR Ct podem variar significativamente entre ensaios, mesmo aqueles que utilizam o mesmo gene alvo, e muitas variáveis pré-analíticas afectam, por exemplo, o método da zaragatoa, a fonte da amostra, o transporte, e o tempo entre infecção, recolha, e análise.
Além disso, nem todas as plataformas de diagnóstico podem produzir um valor Ct, ou produzir um resultado qualitativo baseado em algoritmos pré-definidos do fabricante. Por conseguinte, não há uma validação consensual sobre a utilização do Ct para orientar a gestão de casos da Covid-19.
No entanto, é igualmente bem conhecido que vários autores salientam a utilidade de declarar a política sobre os Ct porque, quando interpretada no contexto, pode ajudar na tomada de decisões. Por exemplo, mais uma vez sem entrar em pormenores, os Ct podem fornecer informações sobre a quantidade de RNA viral nas amostras, o que é particularmente importante durante as semanas de infecção e pode afectar as decisões de revogação do isolamento, definindo um doente como não sendo mais infeccioso.[…]
No entanto, a comunicação como resultado binário positivo ou negativo remove informação útil que poderia informar a tomada de decisões clínicas e as políticas de isolamento. Após a completa resolução dos sintomas, as pessoas podem ter prolongados resultados positivos de testes moleculares, potencialmente durante semanas. Nestes períodos, o valor Ct é frequentemente muito elevado, indicando a presença de algumas cópias de RNA viral que podem ser de vírus não vitais ou inactivos ou apenas de fragmentos de RNA; nestes casos, os resultados são relatados ao médico simplesmente como positivos.
Isto deixa ao médico pouca escolha a não ser interpretar os resultados de forma não diferente do que com uma amostra de uma pessoa altamente positiva e onde as cópias de RNA podem atingir os 100 milhões ou mais. O vírus vital é frequentemente isolável apenas durante a primeira semana de sintomas mas não depois do 8º dia, mesmo com testes positivos. Os doentes cujos sintomas tenham sido completamente resolvidos e com dois testes com 24/48 horas de intervalo negativos ou próximos do Ct > 34, provavelmente não têm doença significativa ou transmissível, e portanto não precisam de ser submetidos a novo teste. Isto pouparia reagentes e equipamento de protecção pessoal.
Além disso, manter os pacientes com estas condições em isolamento poderia prejudicar o desempenho de outros serviços de saúde, tanto preventivos como curativos, tais como tratamentos de cancro não realizados em indivíduos positivos, afectando a sua qualidade e duração de vida. Finalmente, poderia haver implicações para o rastreio da saúde pública, permitindo um enfoque nas pessoas com baixa probabilidade de infecção.
Tudo isso significa que os testes PCR produzem uma elevadíssima percentagem de falsos positivos, 96% das zaragatoas segundo alguns autores.
Obviamente, nada disso interessa aos órgãos de comunicação. O Portal Terra alerta acerca da terrível variante derivada da já conhecida B.1.1.7, que é “70% mais transmissível do que variantes anteriores e muito mais letal”. Todas as novas variantes são “mais transmissíveis” e “mais letais”, é um milagre que ainda existam seres humanos com vida neste planeta.
Seja como for, os números são impressionantes: 1.6 milhões de casos numa semana num País de quase 1.4 biliões de indivíduos e que não brilha pelas condições higiénico-sanitárias. Nada mais de que 1.700 mortos em 24 horas. Horrível: pouco mais de 0.1% de mortos. Não acaso, segundo as estatísticas de World O Meter, a Índia tem 133 mortos por milhão de habitantes, contra os 1.666 de Portugal, por exemplo.
Óbvia pergunta: todos mortos “de” Covid? Para responder, o Leitor tem que voltar ao começo deste artigo, às declarações do Professor Zangrillo e àquele 13% de mortos “verdadeiros”…
Entretanto, o diário espanhol La Vangaurdia explica como, legalmente, Big Pharma pode descarregar a responsabilidade por quaisquer efeitos secundários das vacinas anti-Covid, desenvolvidas em tempo recorde. Uma verdade gravada a preto e branco no contrato assinado no passado dia 20 de Novembro pela Comissária Europeia para a Saúde, Stella Kyriakides, e pelo chefe global do programa de vacinas da Pfizer, Nanette Cocero.
Este é o acordo para a compra de 300 milhões de doses da vacina Comirnaty, desenvolvida pela Pfizer e pela BioNtech, concluído quando o produto ainda não tinha sido validado pela EMA, a Agência Europeia de Medicamentos. Como resume La Vanguarda:
Toda a responsabilidade recai sobre a Comissão Europeia e os Países membros.
Não havia dúvidas.
Em suma, a Pfizer só é responsável por “problemas” que possam ocorrer na “fase de produção”. “Mas a partir da entrega aos Países membros, regula o contrato, a multinacional não é responsável, nem será obrigada a qualquer compensação. Nem a empresa, nem os seus gestores ou trabalhadores, nem os seus parceiros” está especificado no acordo.
E isto também se aplica em relação à “possível compensação por efeitos secundários não descritos na ficha de dados técnicos do medicamento”. Uma isenção total de qualquer tipo de responsabilidade no caso dos efeitos adversos do produto, pela qual os Estados terão de pagar. Mas este não é o único elemento que desequilibra o contrato em favor da empresa farmacêutica.
O documento publicado pelo jornal espanhol confirma igualmente que o custo de cada vacina está a aumentar e que o preço pago por Bruxelas é superior ao de 12 Euros por dose fixado num tweet publicado acidentalmente em Dezembro passado pela secretária do orçamento belga, Eva de Bleeker. O contrato assinado entre Cocero e o Comissário Kyriakides inclui outras taxas: o preço das primeiras 100 milhões de doses foi de 17.50 euros por dose, enquanto que de 101 a 200 milhões de doses a taxa caiu para 13.50 euros. Isto significa, segundo o documento a que La Vanguardia teve acesso, que o preço das primeiras 200 milhões de doses contratadas ascende a 15.50 por dose, a que devem ser acrescentados impostos.
Também segundo o que foi acordado pela UE e pela Pfizer em Novembro passado, a Comissão poderia ter optado por mais 100 milhões de doses a um preço especial de 15.50 euros, desde que tivesse encomendado os frascos no prazo de três semanas após a chegada da luz verde da EMA. Mas o happy hour acabou e a encomenda seguinte foi feita uma semana após a chegada da autorização, com o consequente aumento dos custos.
E o preço poderá subir ainda mais nos próximos meses. La Vanguardia explica que o contrato assinado pela Comissão Europeia com a empresa farmacêutica multinacional tem uma duração de dois anos; depois disto, Bruxelas assinou um segundo contrato para a entrega de mais 300 milhões de doses (o mesmo que o primeiro, 200 milhões inicial e extensão de mais 100) para entrega este ano. E neste momento, as autoridades europeias estão a negociar um terceiro contrato para encerrar o fornecimento de 1.8 mil milhões de doses de vacinas para os anos 2022 e 2023.
Também pouco ou nada se sabe sobre este último acordo. Mas o Primeiro-Ministro da Bulgária Boyko Borissov revelou como o custo poderia ser aumentado em até dois Euros por dose, com um aumento das despesas de “pelo menos 18 mil milhões de Euros”.