Desde abril de 2019, os cristãos de Burkina Faso estão na lista negra de jihadistas, que invadiram o país causando conflitos, mortes e perseguição. O aumento de grupos islâmicos terroristas no país tem preocupado entidades que monitoram a Igreja Perseguida no mundo, como a Release Internacional.
Para Andrew Boyd, parceiro da Release, Burkina Faso tem caminhado para se tornar a próxima Nigéria em relação à perseguição violenta contra cristãos.
A gerente de projetos da Release Internacional, Susanna, acompanha a situação de Burkina Faso há 14 anos e relata a mudança perigosa que o país está passando.
“Burkina Faso era lindo e pacífico, mas agora tudo está perdido. Cristãos, animistas e muçulmanos viviam em relativa paz, mas a situação começou a mudar com o aumento de militantes islâmicos ligados ao Estado Islâmico e à Al Qaeda”, contou.
Tudo começou em 2015, quando jihadistas do Mali rumaram para o sul. Grupos afiliados à Al Qaeda e ao Estado Islâmico intensificaram seus ataques no ano seguinte em Burkina. Segundo a agência de notícias AFP, o país vem sofrendo ataques quase diários. E em 2020, os radicais mataram cerca de 4 mil burquinenses.
Susanna afirmou que a crescente insegurança atingiu todos os burquinenses, mas que em abril de 2019, os jihadistas anunciaram que seu alvo principal seriam os cristãos da nação.
“Eles querem expulsar os cristãos. Eles estão na lista negra. Os jihadistas vêm à procura de crentes para sequestrá-los ou matá-los”, afirmou.
A maioria dos cristãos de Burkina vivem no sul do país, mas a minoria que mora no norte foi alvo dos islâmicos radicais, provocando a fuga de muitos moradores, que agora são refugiados em outras regiões.
“Em Burkina Faso, temos agora um milhão de deslocados e todos eles não têm nada, mas quase não há notícias sobre a situação na grande mídia”, relata Susanna.
A ACNUR (Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados) afirma que a maior parte dos refugiados são mulheres e crianças, que fogem de conflitos, sequestros e assassinatos de civis e líderes religiosos.
As agências de ajuda humanitária alertam para uma possível crise humanitária. E, segundo a Save the Children, um terço de todas as crianças com menos de cinco anos em Burkina Faso está desnutrida.
Na avaliação da gerente de projetos, Burkina Faso está indo pelo mesmo caminho que a Nigéria, onde ataques contra cristãos no norte e no cinturão médio são diários. "A situação que os cristãos enfrentam em Burkina Faso agora é semelhante à da Nigéria”, disse.
Assim como fizeram na Nigéria, os jihadistas atacaram escolas em Burkina, com o objetivo de expulsar a influência ocidental. Os terroristas incendiaram colégios e obrigaram 2 mil escolas a fecharem, deixando 300 mil estudantes sem educação.
“As crianças viram seus professores serem espancados e mortos. Não consigo imaginar como deve ser para uma criança pequena testemunhar coisas tão horríveis”, relata Susanna.
Pastor burquinense assinado na frente do filho
Ela conta a história da família de um pastor em Burkina que precisou fugir ao ver que jihadistas dirigiam em direção a sua casa. O pastor Daniel, sua esposa Halima e seus seis filhos conseguiram fugir a tempo para outra aldeia.
Mas, logo a família ficou sem alimento e o pastor decidiu se arriscar e voltar para casa para buscar suprimentos, com seu filho Philip, de 10 anos, imaginando que os terroristas já tinham ido embora da residência.
“Quando eles se aproximaram, perceberam que os jihadistas ainda estavam lá e os viram. Quando o pastor Daniel viu que não havia possibilidade de escapar, ele disse ao filho: 'Vá embora e diga a sua mãe que vou encontrar Jesus hoje'", conta Susanna.
Philip correu e conseguiu escapar, vendo o pai morrer como um mártir de Cristo por cerca de 40 jihadistas.
A Release Internacional tem fornecido sustento para a viúva do pastor e seus filhos. "Por favor, ore por mim e por meus filhos para que possamos continuar a acreditar e ter força”, pediu Hamila.
Susanna também pediu oração pelos irmãos em Burkina. "Por favor, ore por aqueles que perderam entes queridos e pelos cristãos de Burkina Faso para serem uma luz para os outros nesta situação terrível e trabalharem para trazer mudanças”.