Via de regra, ultramaratona é qualquer corrida com percurso mais longo do que os 42,2 quilômetros da maratona tradicional. Uma das mais difíceis, entretanto, é realizada perto da cidade de Baiyin, na província de Gansu, no noroeste da China: não apenas tem 100 quilômetros de extensão como é disputada entre 2000 e 3000 metros de altitude, desgastando os maratonistas com tortuosos aclives e declives. Pegos de surpresa no último sábado para domingo por chuva de granizo e queda abrupta de temperatura, 21 dos 172 atletas inscritos morreram de hipotermia na Floresta Montanhosa do Rio Amarelo. Mas o número de perdas teria sido maior se equipes de resgate não fossem despachadas para o local e um pastor de ovelhas não se arriscasse para salvar seis vidas.
Zhu Keming é o nome do montanhês que, ao ser entrevistado após o resgate, declarou humildemente que “qualquer um teria feito o mesmo naquela situação”. O corajoso pastor pode até pensar assim, mas a verdade é que, se ele não tivesse agido rápido, a maratonista Xiao Yan Xiang provavelmente estaria morta agora. Ela foi uma das seis pessoas de sorte salvas pelo homem que mora na região.
Xiang diz que se preparou para a corrida, levando água, protetor solar, barras energéticas e outras amenidades para fazer o desgastante percurso, mas ela e nenhum outro participante estavam preparados para o repentino vendaval, chuva de rajada e granizo que vieram sem aviso, matando de frio maratonistas treinados e bem-preparados.
Menos de duas horas após o começo da corrida, os atletas viram seu mundo virar de cabeça para baixo. De repente, estavam completamente paralisados pela nevasca. Alguns conseguiram retornar, outros procuraram abrigo, mas, infelizmente, 21 acabaram perecendo. Xiang encontrou quatro maratonistas e, juntos, eles tiveram a sorte de chegar a uma caverna onde o pastor se protegia da tempestade.
Keming, de 49 anos, tinha levado suas ovelhas para pastar no sábado às 9h da manhã. Uma hora depois, ele percebeu que o tempo estava mudando e, sabendo que a situação iria logo piorar, dirigiu-se à caverna onde costuma deixar roupas, cobertas e alimentos para emergências como aquela. Esse abrigo e a ação altruísta do pastor foram a salvação de Xiang e seus companheiros. Quando ouviu um deles pedindo socorro, Keming saiu da caverna e o trouxe para dentro, bem como os demais do grupo em seguida. Estavam todos congelados e, mesmo com o abrigo, provavelmente não escapariam se Keming não tivesse acendido fogueiras para aquecê-los.
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O pastor saiu na tempestade para tentar fazer contato com as equipes de resgate quando se deparou com mais um corredor caído no chão. Como a ajuda de um dos outros competidores que havia se recuperado, ele arrastou o atleta inconsciente para a caverna. Segundo Xiang, o inteligente montanhês, acostumado com incidentes como aquele, tirou as roupas do homem desfalecido, colocou cobertas sobre ele e o trouxe para perto da fogueira: foi a diferença entre a vida e a morte.
Segundo a agência de notícias chinesa Xinhua, as equipes de resgate só conseguiram chegar à caverna por volta das 11h da noite. Sem a ajuda do pastor, que não faz ultramaratonas, mas leva seu rebanho para passear praticamente todos os dias, a corrida da Floresta Montanhosa do Rio Amarelo teria seis mortes adicionais em seus registros.