O novo Ministério entende a solidão como um dos fatores de risco para desenvolvimento de transtornos mentais e para o suicídio no contexto pandêmico
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Durante a pandemia, a taxa de suicídio no Japão teve a primeira alta em 11 anos. Ao todo, foram registrados cerca de 21 mil suicídios, sendo as mulheres e estudantes as principais vítimas, informam dados do governo japonês divulgados pela revista Nikkei Asia. A preocupação com a saúde mental da população levou o governo daquele país a criar um Ministério da Solidão, responsável por criar campanhas e políticas públicas voltadas aos cuidados com a saúde mental e prevenção do suicídio. O órgão também se responsabiliza pelos cuidados voltados às pessoas que vivem sozinhas. Designado pelo primeiro-ministro japonês, Tetsushi Sakamoto assumiu o cargo.
Os efeitos da pandemia impactaram diretamente a saúde mental dos japoneses. Quem explica é o psiquiatra Rodrigo Fonseca Martins Leite, do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP. “Por conta de uma série de fatores e, certamente, no contexto da pandemia, houve um descuido geral da saúde de toda a população japonesa.”
Conforme o psiquiatra, o aumento dos suicídios no Japão entre as mulheres e estudantes pode ser decorrente da alta taxa de desemprego, da crise econômica, do machismo estrutural do país e dos altos níveis de exigência. Apesar de serem já presentes na sociedade japonesa, esses fatores foram ampliados durante a pandemia. “É possível inferir algumas razões, principalmente a questão do desemprego, das dificuldades econômicas e do alto nível de exigência da sociedade japonesa, além do caráter patriarcal e machista da cultura japonesa”, afirma o psiquiatra.
Martins Leite acredita que a saúde mental precisa ser vista como um assunto de Estado. Políticas públicas para cuidar dos impactos psíquicos em populações vulneráveis são essenciais para garantir a qualidade de vida da população. A criação do Ministério da Solidão no Japão demonstra a estratégia e o cuidado com a problemática, entendendo a solidão como um dos fatores de risco para desenvolvimento de transtornos mentais e para o suicídio. O Brasil carece de políticas consistentes de prevenção ao suicídio que leve em conta as peculiaridades das populações vulneráveis. “No Brasil, falta uma política consistente de prevenção ao suicídio que tenha um caráter capaz de observar as peculiaridades das subpopulações vulneráveis”, finaliza o especialista.
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