A ‘onda cringe’ atualiza a guerra de gerações na velocidade das redes
TECNOLOGIA
Publicado em 02/07/2021

A não ser que você tenha estado em Marte nos últimos dias, ou tenha ficado fora das redes sociais, o que dá praticamente no mesmo, dificilmente não terá ouvido falar em cringe. Trata-se de um verbo em inglês cujos significados podem ser “encolher-se ou recuar com medo” ou ainda “sentir-se muito envergonhado ou constrangido”. Entre os jovens brasileiros, a palavra virou substantivo para definir hábitos embaraçosos, antiquados ou, para usar uma expressão dos velhos tempos, cafonas (este, reconheça, deve ser o termo mais cringe da história). As buscas pelo vocábulo no Google cresceram 500% na última semana e movimentaram a mais nova e bem-humorada batalha geracional entre a geração Z (formada por jovens de 11 a 25 anos) e os millennials da geração Y (adultos de 26 a 40 anos). Uns, os mais moços, acusam os outros de cringe.

O tratamento desonroso de origem estrangeira já vinha sendo utilizado no ambiente virtual com certa frequência e não se referia apenas aos costumes de uma determinada geração, mas a qualquer coisa considerada digna de vergonha alheia. O cringe, no entanto, ganhou repercussão nacional depois de um tuíte de Carol Rocha, publicitária e apresentadora do podcast Imagina Juntas: “Por favor, jovens da geração Z, me contem o que vocês acham um mico nos millennials. Acho que falar mico já passou. É cringe, né?”. As respostas foram hilárias e envolviam o uso de determinadas roupas e até hábitos banais, como, veja só, tomar café da manhã. O músico britânico radicado no Brasil Ritchie, do alto de seus 69 anos, quis entrar na dança. “Dizer que fulano é cringe não faz sentido algum. No máximo, poderia se dizer ‘cringeworthy’ (digno de desgosto, asco ou desprezo)”, escreveu. “Como se abajur cor de carne tivesse sentido”, rebateu um seguidor, citando versos de seu sucesso Menina Veneno (1983). Eis o retrato de um fenômeno social antiquíssimo: a busca por uma identidade que seja, ou ao menos pareça, melhor, mais interessante e moderna — e que o buuuaá da internet amplia.

Comentários