O avanço acelerado da inteligência artificial (IA) está transformando o cenário econômico global, e o Brasil não está imune a essas mudanças. Segundo um estudo recente da LCA 4Intelligence, inspirado em metodologia da Organização Internacional do Trabalho (OIT), pelo menos 31,3 milhões de empregos no país podem ser afetados, em diferentes graus, pela adoção de sistemas automatizados e IA generativa. Desses, cerca de 5,5 milhões de postos estão em áreas consideradas de alto risco de automação, especialmente funções administrativas e operacionais.
O relatório destaca que ocupações como escriturários, analistas financeiros, contadores, vendedores por telefone e até desenvolvedores de sites estão entre as mais suscetíveis à substituição por máquinas e algoritmos inteligentes. No entanto, especialistas ponderam que o cenário mais provável não é a extinção em massa de empregos, mas uma transformação profunda nas funções e exigências do mercado de trabalho.
Bruno Imaizumi, economista responsável pelo estudo, afirma que “a maioria das ocupações inclui tarefas que ainda exigem julgamento humano e habilidades interpessoais, o que indica que a transformação dos empregos é o impacto mais provável da IA generativa, em vez da automação total”. Ou seja, a tecnologia tende a modificar rotinas, exigindo dos profissionais uma adaptação constante e o desenvolvimento de novas competências.
Outro ponto importante é o impacto desigual da automação: mulheres e jovens aparecem como os grupos mais expostos, devido à maior concentração em funções administrativas e de atendimento, tradicionalmente mais vulneráveis à automação. O estudo aponta que 7,8% das mulheres ocupam funções de alto risco, contra 3,6% dos homens. Entre os jovens de 14 a 39 anos, a exposição também é maior do que entre trabalhadores mais experientes.
Diante desse cenário, especialistas e entidades do setor produtivo defendem a necessidade de políticas públicas voltadas à requalificação profissional e à promoção do letramento digital. Investir em educação técnica, lógica, pensamento crítico e habilidades digitais é visto como essencial para que o país aproveite as oportunidades da nova economia sem deixar grandes parcelas da população para trás.
Por outro lado, a IA também abre portas para novos empregos e atividades que sequer existiam há poucos anos. Áreas como tecnologia da informação, ciência de dados, marketing digital e desenvolvimento de softwares estão em alta e tendem a absorver parte da mão de obra deslocada pela automação. Empresas brasileiras já demonstram interesse em adotar soluções de IA para aumentar a produtividade, mas ressaltam a importância do equilíbrio entre inovação e responsabilidade social.
Em resumo, o avanço da inteligência artificial representa um desafio significativo para o Brasil, exigindo prudência, planejamento e ação coordenada entre governo, empresas e sociedade civil. O futuro do trabalho será, cada vez mais, moldado pela capacidade de adaptação e pela busca por conhecimento, valores que devem orientar as próximas gerações de trabalhadores brasileiros.