Cientistas querem reconstruir o homem do zero apenas com DNA sintético
Projeto internacional busca criar cromossomos humanos em laboratório e levanta debates éticos sobre o futuro da biotecnologia
Por Administrador
Publicado em 17/07/2025 13:51
CIÊNCIA

Pesquisadores de diversos centros de excelência deram início a um dos mais audaciosos projetos da história da biotecnologia: criar blocos cada vez maiores de DNA humano sintético em laboratório, com a meta de, em algumas décadas, reconstruir pela primeira vez sequências inteiras do genoma humano a partir do zero. O objetivo inicial é desenvolver tecnologias para montar cromossomos humanos artificialmente, indo além das edições genéticas já possíveis em células e tecidos vivos até hoje. Esses cromossomos sintéticos contêm os genes que regem o desenvolvimento, a manutenção e o funcionamento básico de todas as funções do corpo humano.

Segundo os cientistas envolvidos, a ideia é que, ao dominar a síntese do DNA humano em laboratório, a ciência poderá desvendar novas fronteiras sobre o funcionamento dos genes e criar tratamentos personalizados para doenças genéticas incuráveis, regenerar órgãos e produzir tecidos humanos resistentes a infecções, além de gerar terapias celulares avançadas. Isso representaria uma revolução na medicina, podendo fornecer respostas inéditas para questões de saúde e bem-estar que até então pareciam insolúveis.

Esse esforço internacional é comparado ao Projeto Genoma Humano, que há vinte anos sequenciou todo o DNA humano, mas agora avança para a criação — e não apenas a leitura — do código genético da vida. O trabalho, liderado por equipes no Reino Unido e financiado por grandes fundações biomédicas, deve inicialmente levar à síntese de cromossomos individuais. Caso seja bem-sucedido, o passo seguinte será criar todos os cromossomos, compondo um genoma inteiramente sintético e autossuficiente em laboratório.

Porém, o projeto é acompanhado de grande preocupação ética e social. Especialistas alertam para o risco de criação de seres humanos modificados, “bebês sob encomenda” ou até mesmo organismos sintéticos com capacidades desconhecidas, além do potencial para uso inadequado em armas biológicas. Uma das perguntas mais polêmicas gira em torno de quem seria proprietário de um corpo parcialmente sintético e quais direitos essa “criatura” teria, se viesse a existir. Há também o temor de que, uma vez criado esse conhecimento, seja impossível impedir seu uso para fins questionáveis, seja por governos, empresas ou indivíduos inescrupulosos.

Os pesquisadores asseguram que, neste momento, todos os experimentos estão restritos a ambientes controlados, como tubos de ensaio e placas de Petri, sem intenção de criar vida completa nem de produzir seres humanos sintéticos. O debate, porém, é inevitável: a linha entre o avanço científico e a criação artificial da vida humana está mais tênue do que nunca, exigindo acompanhamento responsável por parte da sociedade, organismos reguladores e comunidades religiosas, éticas e filosóficas.

Ainda que a criação total de um ser humano a partir apenas de DNA sintético permaneça distante — possivelmente décadas à frente —, o início de tal projeto revela um novo capítulo para a genética, capaz de transformar não apenas a medicina, mas os fundamentos do que significa ser humano na era da tecnologia.

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