O Brasil deu um passo histórico na luta contra a dengue e outras arboviroses ao inaugurar, em Curitiba, a maior fábrica de mosquitos do planeta dedicada ao controle dessas doenças. A unidade, batizada de Wolbito Brasil, é resultado de uma parceria entre o Ministério da Saúde, Fiocruz, World Mosquito Program (WMP), Instituto de Biologia Molecular do Paraná (IBMP) e o Instituto de Tecnologia do Paraná (Tecpar), e demandou investimento superior a R$82 milhões.
Destaques da biofábrica
•Localização: Parque Tecnológico da Saúde, Curitiba (PR).
•Área construída: Mais de 3,5 mil metros quadrados, com automação de última geração.
•Capacidade de produção: Até 100 milhões de ovos de mosquito Aedes aegypti por semana — um recorde mundial nesta tecnologia.
•Equipe: Cerca de 70 profissionais dedicados à operação e pesquisa.
Como funciona a tecnologia
O diferencial da fábrica está na criação de mosquitos Aedes aegypti inoculados com a bactéria Wolbachia, uma estratégia inovadora testada pela primeira vez na Austrália e já adotada em 14 países. Não se trata de modificação genética: a Wolbachia é uma bactéria natural encontrada em metade dos insetos do planeta, mas ausente no Aedes selvagem. Quando presente, impede que os vírus da dengue, zika e chikungunya se desenvolvam e sejam transmitidos aos humanos, tornando o mosquito inofensivo para a saúde pública.
Estratégia para erradicar doenças
•Os mosquitos “do bem” produzidos na fábrica são liberados em áreas prioritárias.
•Eles se reproduzem e disseminam a Wolbachia para as próximas gerações, reduzindo drasticamente a população de mosquitos capazes de transmitir doenças.
•O método já provou reduzir até 70% dos casos de dengue em cidades como Niterói (RJ) e apresenta impactos positivos no controle de zika e chikungunya.
Alcance nacional
A biofábrica irá beneficiar cerca de 140 milhões de pessoas, priorizando inicialmente municípios com maior incidência de arboviroses, sob coordenação do Ministério da Saúde. Seis cidades, incluindo distritos do DF, Goiás e Santa Catarina, já integram as primeiras fases do projeto, com liberação de mosquitos prevista para o segundo semestre. O impacto esperado é a substituição sustentável da população de Aedes aegypti selvagem por mosquitos portadores da Wolbachia nas regiões mais afetadas do país.
Segurança e impactos
•A bactéria Wolbachia não oferece risco a seres humanos, animais domésticos ou ao meio ambiente.
•Ao lado de métodos convencionais, a tecnologia representa uma alternativa sustentável a inseticidas, com economia estimada de até R$500 em tratamentos médicos para cada R$1 investido.
•Não há manipulação genética dos insetos — o processo é considerado seguro, natural e com eficácia comprovada.
O que representa para o Brasil
A inauguração coloca o Brasil na vanguarda global do controle biológico de arboviroses, promovendo inovação, geração de conhecimento e proteção à saúde pública em larga escala. A expectativa é que, ao longo de dez anos, mais de 140 milhões de brasileiros estejam protegidos da dengue e doenças correlatas graças à estratégia desenhada a partir de Curitiba.