O vice-embaixador russo na ONU (Organização das Nações Unidas), Dmitry Polyanskiy, disse que seu país tem o direito de usar armas nucleares se o país for "provocado" pela Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte). Hoje, a invasão da Ucrânia completa um mês e uma reunião de líderes da aliança militar ocorre em Bruxelas.
Em entrevista à emissora britânica Sky News, Polyanskiy, um dos principais diplomatas da Rússia nos Estados Unidos, foi questionado sobre declaração do porta-voz do presidente russo, Vladimir Putin, que afirmou que seu chefe poderia apertar o botão nuclear se o país sentir que está enfrentando uma ameaça "existencial".
Perguntado se Putin estava certo em manter a perspectiva de uma guerra nuclear no resto do mundo, Polyanskiy respondeu:
"Se a Rússia for provocada pela Otan, se a Rússia for atacada pela OTAN, por que não, somos uma potência nuclear. Não acho que seja a coisa certa a dizer. Mas não é a coisa certa ameaçar a Rússia e tentar interferir. Então, quando você está lidando com uma potência nuclear, é claro, você tem que calcular todos os possíveis resultados do seu comportamento."
O vice-embaixador rejeitou a declaração formal do governo dos EUA de que membros das forças armadas russas são culpados de crimes de guerra na Ucrânia.
"Não acho que estejamos cometendo crimes de guerra na Ucrânia. Claro, não cabe a mim avaliar. Eu não estou lá. Você não está lá. Você está olhando para os vídeos, você está olhando para muitos vídeos que são considerados notícias falsas. Você acredita em uma coisa, eu acredito em outra."
Em um mês, a guerra na Ucrânia gerou a fuga de um quarto da população e afeta 18 milhões de pessoas, além de deixar pelo menos mil mortos e colocar o país à beira da fome. Os dados estão sendo publicados pela OMS (Organização Mundial da Saúde), conforme publicou ontem o colunista Jamil Chade.
Encontro entre Putin e Zelensky é 'possível'
A presidente do Conselho da Federação Russa, Valentina Matvienko, disse em entrevista e uma TV chinesa que um encontro entre o presidente da Rússia, Vladimir Putin, e seu homólogo ucraniano, Volodymyr Zelensky, é "possível". Ela afirmou, no entanto, que a reunião só vai ocorrer sob a condição de elaboração preliminar de acordos entre os dois países.
"A reunião será possível quando os lados ucraniano e russo concordarem com a agenda e de alguma forma for elaborado o documento final, que deve ser aprovado."
Matvienko ainda disse que a Rússia está pronta para esta forma "objetiva" de reunião, mas apenas com a condição de que os documentos finais estejam disponíveis. Ela ressaltou que "a reunião deve dar resultados". "Essas reuniões estão sendo preparadas, e não são apenas uma reunião para conversar", acrescentou.
Cúpula da Otan
A Otan anunciou ontem a intenção de reforçar o apoio à Ucrânia diante das tropas russas. O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, chegou ontem à noite a Bruxelas, para participar hoje de uma cúpula extraordinária da aliança militar e do G7, grupo das potências industrializadas. Os líderes da UE (União Europeia) também se reúnem na capital belga.
O secretário-geral da Otan disse que Putin cometeu um "grave erro" com a invasão da Ucrânia e subestimou os ucranianos.
O presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, participará das reuniões por videoconferência. "Nestas três cúpulas veremos quem é amigo, quem é parceiro e quem nos traiu por dinheiro", declarou.
O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, disse Putin "cruzou uma linha vermelha" e que a comunidade internacional "aumentará a pressão" sobre ele após a reunião.
A invasão russa ao território ucraniano completa um mês hoje ainda sem sinal de grandes avanços nas negociações para o fim da guerra. Hoje, as Forças Armadas da Ucrânia divulgaram que um navio russo foi destruído no porto de Berdyansk — que fica a 750 quilômetros da capital ucraniana —, controlado pela Rússia.
O Ministério da Defesa da Rússia não mencionou, em seu relatório matinal, a perda do navio, mas disse que "unidades do exército russo assumiram completamente o controle da cidade de Izium, na região de Kharkiv". A informação não pôde ser verificada de forma independente.