O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, afirmou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi o responsável por iniciar o debate sobre a criação de sistemas de pagamento alternativos ao dólar no âmbito do Brics. A declaração, feita em novembro de 2024 durante entrevista à TV Brics, destaca o papel do líder brasileiro na cúpula de Joanesburgo, em agosto de 2023, e sinaliza expectativas para a presidência brasileira do bloco em 2025.
De acordo com Lavrov, foi Lula quem propôs, na cúpula sul-africana, a discussão sobre mecanismos de compensação e pagamentos que reduzam a dependência do dólar americano. O chanceler russo enfatizou que essa ideia avançou durante a presidência russa do Brics, mas precisa ser concluída para gerar ferramentas práticas e utilizáveis. "Foi o presidente Lula da Silva, na cúpula do Brics em Joanesburgo, no ano passado, que iniciou o debate trabalhado pela presidência russa sobre sistemas de pagamento alternativos", declarou Lavrov.
A proposta não visa substituir moedas nacionais, mas criar opções para transações comerciais entre os membros do Brics – Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, além de novos integrantes como Egito, Irã, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Indonésia e Arábia Saudita. Especialistas apontam que essa movimentação reflete preocupações com sanções econômicas e a hegemonia do dólar, especialmente para países como a Rússia, afetada por restrições ocidentais após a invasão da Ucrânia.
A declaração de Lavrov gerou repercussão em meio a ameaças do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que prometeu tarifas de até 100% sobre produtos de nações do Brics que adotassem moedas alternativas ao dólar. Trump argumentou que tal medida representaria uma ameaça à economia americana, exigindo compromissos para manter o dólar como referência.
No Brasil, Lula tem defendido a ideia com cautela, enfatizando a necessidade de solidez técnica e alertando que, sem inovações, o comércio global permanecerá estagnado. Analistas observam que, embora a proposta promova maior autonomia financeira, harmonizar políticas monetárias e fiscais entre os membros do bloco representa um desafio significativo a médio e longo prazos.
Críticos, incluindo especialistas em relações internacionais, destacam que sistemas de pagamento em moedas locais já existem em parcerias bilaterais, como entre Brasil e Argentina desde 2008, mas sua expansão para o Brics exige coordenação para evitar polarizações geopolíticas.
Com o Brasil assumindo a presidência do Brics em 2025, Lavrov expressou confiança de que Lula priorizará o tema, dedicando "o máximo de energia" para avançar nos mecanismos de pagamento. O bloco busca equilibrar o multilateralismo com questões como meio ambiente e inteligência artificial, mas o debate sobre desdolarização continua central, especialmente após a cúpula no Rio de Janeiro, que enfrentou ausências de líderes chave como Xi Jinping e Vladimir Putin.
O episódio evidencia a busca por estabilidade econômica em um cenário de tensões globais, com o Brics posicionando-se como contraponto ao domínio ocidental, mas sem ignorar os riscos de retaliações comerciais. Especialistas recomendam diálogo multilateral para mitigar impactos e promover um comércio mais inclusivo.