Vacinar ou não as crianças?
A criança com uma saúde boa precisa de todas as vacinas contra doenças infecciosas que a gente tem vacinas. A gente nunca deixou de vacinar as crianças para sarampo, caxumba, rubéola, pólio, meningite, tantas outras doenças que têm no calendário vacinal. Então, a gente não pode esquecer como é que era o mundo antes da gente ter vacinas.
Uma em cada cinco crianças morriam de doença infecciosa antes de completar cinco anos de idade. As vacinas tornam as nossas crianças saudáveis, as vacinas protegem as crianças. A vacina de Covid não é diferente de nenhuma outra vacina que tem no calendário e que os pais já estão acostumados a dar.
A vacina de Covid passou pelos mesmos processos, ela passou por testes clínicos com mais de 3 mil crianças, ela passou por uma análise muito criteriosa das agências regulatórias, da FDA, da Anvisa, da Ema na Europa, para averiguar eficácia e segurança.
Então, essas vacinas pediátricas elas foram testadas, foram aprovadas, foram usadas no mundo em mais de 8 milhões de crianças, ou seja, têm um acompanhamento que pode dar muita segurança para os pais de que essa vacina é segura, é eficaz, vai proteger as nossas crianças e não tem nenhum efeito colateral que seja diferente das outras vacinas. Tem efeito colateral de vacina normal: é uma dor no braço, uma febrezinha... São os efeitos esperados e compatíveis com qualquer outra vacina infantil
A gente pode dizer, com certeza, que os benefícios da vacina, a proteção que ela confere às crianças, superam absurdamente qualquer tipo de risco de efeito adverso.
Você prefere, realmente, você que é pai, mãe de uma criança exposta que vai à escola que precisa dessa atividade escolar e social, ou seja, ela tá exposta a pegar Covid. Se ela não estiver vacinada, ela pode pegar Covid.
Covid é uma doença que mesmo que na maioria das crianças seja leve, em algumas crianças ela pode ser grave, ela pode requerer hospitalização, ela pode deixar sequelas de longo prazo, e a vacina pode dar uma dor no braço, uma febrezinha que em 24 ou 48 horas vai passar.
Então, você que é pai e mãe pese essas duas, esses dois fatos, que são comprovados, que são testados, que foram avaliados num enorme número de crianças iguais ao seu filho e pense.
Você prefere que o seu filho tenha um efeito colateral de febre e dor no braço, mas fique protegido contra uma doença que pode ser grave, ou você prefere que seu filho corra o risco de pegar essa doença que pode ser grave.
Então, não é uma conta difícil de fazer e é muito triste que esses efeitos colaterais tão comuns a qualquer vacina infantil estejam sendo usados para assustar os pais e para deixá-los confusos em relação à segurança dessa vacina.
O número de hospitalização não sobe como em outros momentos. O que podemos atribuir à vacinação ou à variante?
É muito mais uma conquista da vacinação. A gente vê principalmente nos outros países que têm um acompanhamento de número de casos, de hospitalizações, de óbitos que é mais refinado entre vacinados e não vacinados. Aqui nos Estados Unidos isso fica bastante óbvio quando a gente observa as curvas de hospitalização e morte com a ômicron – elas são muito mais pronunciadas entre os não vacinados.
Então, quem não se vacina tem muito mais probabilidade de adoecer gravemente com a ômicron do que quem se vacinou. É uma conquista da vacinação. Em países como o Brasil que vacinam bem e vacinam muito, nós temos uma grande vantagem em relação à ômicron ou qualquer outra variante. A nossa população está muito mais protegida de desenvolver doença grave e de precisar de hospital.
A ômicron tem algumas mutações que deixam ela um pouco mais branda, um pouco menos capaz de infectar o pulmão, isso foi comprovado em alguns estudos em células e animais, mas isso não é o suficiente para dizer que ela é branda, que ela é leve, que ela só causa doença leve.
Quer dizer que ela tem uma probabilidade menor de chegar ao pulmão, não quer dizer que ela não chega e como ela infecta muita gente, essa probabilidade menor acaba sendo meio que desprezível na quantidade de pessoa que ela infecta porque ela acaba chegando em muita gente que é suscetível a doença grave.
Então, não podemos menosprezar a ômicron achando que “ah, ela causa doença mais leve”. Ela até tem essa característica fisiológica, mas o potencial que ela tem de causar doença grave porque ela se espalha muito é grande e não deve ser desprezado, e as vacinas protegem.
Então, esse descolamento da curva que a gente vê hoje numa situação muito melhor do que a gente estava em 2020 no começo da pandemia. É porque hoje a gente tem vacinas.
A gente se acostumava a olhar o que acontecia na Europa como espécie de previsão. O que podemos dizer sobre o futuro da pandemia?
Sempre é difícil ficar fazendo previsão do futuro de pandemia. Acho que o que acontece nos outros países deve sempre servir como um sinal de alerta. A gente tem algumas semelhanças e algumas diferenças principalmente com EUA. A semelhança é que são dois países grandes e que estão vacinando mais ou menos na mesma faixa.
O Brasil já passou afrente dos EUA em vacinação como era esperado, mas os EUA tem regiões inteiras que são mais resistentes à vacinação, então, isso forma regiões de não vacinados onde a doença circula mais e acomete mais gente.
O Brasil tem alguns bolsões que têm mais dificuldade de vacinar por diversos motivos, por resistência por um lado, por questões de logística e distribuição por outro, mas tem menos que os EUA. Então, é difícil fazer essa comparação direta, mas, com certeza, o que acontece nos outros países serve de alerta.
Então, quando a gente vê uma variante se espalhando rapidamente na Europa, nos EUA, não existe motivo para pensar que o mesmo não vai acontecer aqui. É nesses dados que a gente deve se basear trazendo para dentro da realidade brasileira.
O que podemos fazer aqui olhando os outros países?
Acho que o mais interessante seria olhar um pouco para dentro, para realidade brasileira, para realidade das grandes cidades. Temos problemas que são muito brasileiros para resolver.
Por exemplo: o nosso maior gargalo nas grandes cidades é contaminação no transporte publico porque as pessoas passam muitas horas aglomeradas. Elas não têm escolha em não se aglomerar com outras pessoas, num ambiente fechado, o vagão de metrô, de trem, de ônibus, onde elas precisam ficar aglomeradas durante um longo período de tempo.
A gente tem diversas medidas que poderiam ser tomadas para mitigar esse tipo de contato que facilita muito a transmissão do vírus, que é distribuição de mascaras PFF2.
São mascaras adequadas para usar quando elas precisam se aglomerar no transporte publico; aumentar a frota porque a gente não pode, e isso é algo que pode ser pensado inclusive para futuras pandemias, a gente não pode mais ter essas situações de onde [tenha] uma exposição tão forte a vírus respiratórios, não é só Covid-19, pessoas aglomeradas em ambientes fechados do transporte publico estão suscetíveis a qualquer doença respiratória.
Então, aumentar a frota, escalonar horários para tentar reduzir o horário de pico de trabalho, tem tantas medidas que poderiam e deveriam ser tomadas agora para garantir que a gente não passe por essa mesma situação no futuro... Garantir a distribuição de vacinas para lugares mais remotos no Brasil, estados brasileiros no norte que ainda não conseguiram vacinar a população com a mesma rapidez e eficiência que São Paulo e Rio de Janeiro, por exemplo.
Então, a gente tem muitos problemas brasileiros para resolver que exigem vontade politica para resolvê-los.
Como você avalia a testagem no Brasil?
A testagem no Brasil foi deficiente desde o início na pandemia. Não houve um investimento em testagem, não houve um planejamento para testagem e continua sendo, infelizmente, uma marca muito ruim do Brasil.
O Brasil testa pouco, testa mal, confunde a população em relação ao tipo de teste que deve ser usado, não vamos esquecer que em 2020 a gente passou meses tendo que explicar para população que teste de anticorpo não servia para fazer diagnóstico e agora a gente tem toda a confusão dos autotestes que deveriam ser uma estratégia super simples como acontece aqui nos EUA, onde muito facilmente você compra um autoteste na farmácia e faz em casa.
Essa discussão fica se alongando, se alongando, com muito pouca informação para as pessoas e muito pouco investimento para testagem. Infelizmente, essa tem sido a marca da testagem na pandemia do Brasil.
Qual o seu recado para as pessoas que ainda não se vacinaram?
Se vacinem, se vacinem como vocês se vacinaram para diversas outras doenças infecciosas. A Covid é apenas mais uma doença infecciosa para qual nós já desenvolvemos vacinas que foram testadas, que são seguras, que são eficazes, e nos precisamos da população vacinada para sair dessa situação.
Todo mundo quer sair dessa situação, mas sair da pandemia depende de uma população vacinada. Não há porque ter medo de se vacinar, não há porque recusar essa vacina, assim como a gente nunca recusou a vacina de sarampo, vacina de rubéola, vacina de pólio. Então, é apenas mais uma vacina no nosso calendário. E é uma vacina extremamente necessária nesse momento.
Por que pode ocorrer de apenas uma pessoa de um casal testar positivo?
Pode acontecer porque algumas pessoas estão mais protegidas do que outras, reagem de forma diferente quando tem a doença, tem uma resposta de anticorpos que pode ser maior ou melhor. Então, isso acontece. É frequente e não quer dizer nada.
Quer dizer assim simplesmente que uma pessoa infelizmente pegou a doença e a outra não, mas, de qualquer maneira, quando tem alguém infectado no seu convívio familiar, na sua casa, você deve redobrar os cuidados e deve cumprir também o isolamento porque você está diariamente exposto àquela pessoa contaminada.
Por que pode ocorrer de apenas uma pessoa de um casal testar positivo?
Pode acontecer porque algumas pessoas estão mais protegidas do que outras, reagem de forma diferente quando tem a doença, tem uma resposta de anticorpos que pode ser maior ou melhor. Então, isso acontece. É frequente e não quer dizer nada.
Quer dizer assim simplesmente que uma pessoa infelizmente pegou a doença e a outra não, mas, de qualquer maneira, quando tem alguém infectado no seu convívio familiar, na sua casa, você deve redobrar os cuidados e deve cumprir também o isolamento porque você está diariamente exposto àquela pessoa contaminada.