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Inteligência artificial e até sensação de toque: aplicações da rede 6G são pesquisadas em MG
29/06/2021 17:26 em BRASIL

 A rede 5G nem entrou em operação ainda no Brasil, mas especialistas do Instituto Nacional de Telecomunicações (Inatel), de Santa Rita do Sapucaí (MG), já trabalham em pesquisas para ajudar na definição da rede 6G, que deverá sair do papel somente em meados de 2030.

A nova rede de dados pretende transpor os limites daquilo que nós conhecemos como uma rede de comunicação.

"A rede 6G não vai ser só baseada em comunicação, mas ela vai trazer também o uso de imagem, o uso de sensoriamento, o uso de processamento inteligente e também a questão do posicionamento e mapeamento para dentro do contexto de comunicação móvel. Ela vai ser uma rede que vai integrar de forma transparente os mundos digitais, o físico e o biológico em um ecossistema que a gente vai poder interagir com os dispositivos reais e virtuais de forma muito mais transparente do que aquilo que a gente faz hoje", explica o professor Luciano Leonel Mendes, coordenador de pesquisa do Centro de Referência em Radiocomunicações do Inatel.

Pesquisadores do Inatel trabalham na definição de aplicações para a rede 6G no Brasil — Foto: Divulgação / Inatel

Pesquisadores do Inatel trabalham na definição de aplicações para a rede 6G no Brasil — Foto: Divulgação / Inatel

Como é uma rede que ainda não saiu do papel, o trabalho do Inatel está sendo em ajudar quais são os requisitos, quais serão as funcionalidades e os casos de uso que serão importantes para o Brasil nesta 6ª geração.

"Essa é uma rede que vai ainda passar por um processo de estudo e pesquisa muito intenso, ela apenas vai chegar ao mercado em meados de 2030. Então hoje o que nós estamos fazendo é justamente definindo o que é essa rede 6G e o que ela vai ter além do que nós temos previsto hoje para o 5G", explica o professor.

 

Diferenças em relação ao 5G e aplicações da nova rede

 

O professor do Inatel explica que a rede 5G, que deverá estar disponível para o público brasileiro somente entre 2 e 4 anos, após o leilão de frequências do governo, é uma tecnologia que já quebrou vários paradigmas.

Até a 4ª geração, havia uma preocupação apenas de oferecer um fluxo de dados para o usuário fazer o consumo de mídias através do ambiente online, como assistir um vídeo no YouTube, acessar a web ou trocar mensagens pelas redes sociais. O 5G nasceu para diversificar os tipos de serviços com um fluxo de dados muito mais veloz, a conectividade de vários dispositivos, com a internet das coisas e uma comunicação específica para a área industrial, permitindo que toda a produção de uma fábrica seja automatizada.

Já a rede 6G, segundo o professor, vai permear todas as ações da nossa vida e vai permitir que tenhamos uma integração completa com a rede.

"Por exemplo, imagine um sistema de segurança de um aeroporto, onde você possa simplesmente entrar e automaticamente os sensores disponíveis no ambiente verificam se você possui alguma arma química, se você tem algum explosivo, se você tem alguma ameaça, scanners já conseguem identificar se você está carregando uma faca, uma arma, o sistema de identificação já verifica qual a sua identidade e permite o acesso ao ambiente", explica o professor.

Ele diz ainda que através dessa rede 'futurista' será possível comandar máquinas sem ter a necessidade de um dispositivo específico em nossas mãos, como um telefone celular e fazendo uso da IA, a inteligência artificial.

"A inteligência artificial vai fazer parte inerente dessa rede, então a gente vai poder também contar com a colaboração de entes inteligentes, baseados em IA, que possam atuar de forma colaborativa conosco. Então a gente não está falando em mandar comandos para serem realizados, mas também ter entidades inteligentes que saibam o objetivo da nossa tarefa e possam colaborar de forma muito mais efetiva", conta o professor.

Inteligência artificial e conectividade entre todas as máquinas são aplicações previstas da Rede 6G — Foto: Divulgação / Inatel

Segundo ele, a rede também será útil para a medicina, onde será possível, por exemplo, fazer a análise de exames, sem a necessidade da presença de um médico.

"Sensores biomédicos implantados nas pessoas vão poder fazer medições em tempo real, em diversos parâmetros. Então será possível distinguir uma pessoa que está sofrendo a ação de um agente patogênico, também vai poder identificar alterações em parâmetros sanguíneos em tempo real, alteração de pressão, risco de infarto, presença de componentes sanguíneos que estão associados a câncer por exemplo, você pode medir seu PSA em tempo real, então isso tudo vai ser possível com a rede 6G, porque ela vai ter essa rede de sensoriamento integrada, a gente vai poder transmitir essas informações o tempo todo para a rede e ela vai ser inteligente suficiente para fazer essa análise", explica o professor.

 

Sensação de toque e transmissão de sentimentos

 

Segundo o professor Luciano Leonel, a rede 6G vai possibilitar uma série de outros tipos de comunicações que hoje em dia ainda não são possíveis com a internet que usamos, como por exemplo, a comunicação pelo toque.

"A gente vai conseguir inclusive, fazer a transmissão desse tipo de informação, usando essa interface cérebro-máquina, vai poder transmitir o sentimento que a gente teve no momento, vai poder até mesmo transmitir a sensação de toque, na hora de você querer reconfortar uma pessoa por exemplo, então vai ser possível virtualmente abraçar uma outra pessoa através do uso dessa rede 6G", vislumbra o professor.

Ele ressalta que cenas futuristas que vemos hoje em filmes, como por exemplo atender o telefone pelo vidro de um carro, será possível com essa rede.

"A rede 6G tem um tom muito fictício hoje em dia, nós podemos ver em alguns filmes, que traz cenas que serão possíveis com a rede 6G. Qualquer coisa que você use na rede 6G, ao seu redor, vai ser inteligente, a tendência é que todas as coisas estejam conectadas e você possa usá-las como sendo interface com essa nova rede", explica.

 

Menor latência e maior comunicação à distância

 

A pesquisa das novas aplicações do 6G são lideradas pelo Inatel junto à Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP), que também conta com a participação de várias instituições de ensino e pesquisa nacionais e tem o apoio do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação – MCTI.

Segundo José Rezende, consultor na diretoria de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação da RNP e também pesquisador da Universidade Federal do Rio de Janeiro, uma das peculiaridades da rede 6G será a possibilidade de se reduzir ainda mais a atual latência, que se refere ao tempo/resposta necessários para uma ação ser desenvolvida via internet.

"A rede 5G já traz essa característica, o que é importante nessas aplicações que a gente chama de missões críticas, que é por exemplo uma intervenção médica sendo realizada remotamente, analisada por alguém, controlada por um médico remotamente, o que é importante nesse tipo de aplicação é a latência. Então você precisa diminuir essa latência para ter essa interatividade, assim como para controle de carros autônomos, controle de drones, você precisa de uma latência, a comunicação precisa ser muito rápida, não em termos de bits que você manda, mas o tempo que a informação demora para começar a chegar naquele equipamento que você está controlando", explica o professor.

José Rezende, consultor na diretoria de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação da RNP e também pesquisador da Universidade Federal do Rio de Janeiro — Foto: Reprodução

Segundo o professor, muitas dessas "missões críticas", já serão possíveis com a rede 5G, como por exemplo a montagem de linhas de produção de alta precisão, cirurgias à distância, o que deverá ser mais acentuado com o 6G. Outro ponto destacado pelo pesquisador é a possibilidade de uma maior comunicação à distância.

"A cobertura da rede e o suporte, que é uma coisa um pouco prevista no 5G, que é a internet das coisas, você ter maquinário agrícola, drones e no agronegócio é extremamente importante para você aumentar a produção. Já existem tecnologias em 5G, mas no 6G, isso será mais acentuado, devido a características de menor latência e a questão da comunicação à distância, já que o 5G não suporta comunicações com mais de 10 quilômetros, 50 quilômetros, mas uma iniciativa pode surgir aí para o 6G, que facilitaria o agronegócio", diz o pesquisador.

José Rezende ressalta ainda que com uma menor latência e uma maior comunicação, integrando satélites, será possível até termos no futuro o que já aparece em muitos filmes de ficção.

"Existe uma forte tendências de estudos de veículos espaciais, carros voadores e outros, o suporte da comunicação também, suporte para aviões, tudo isso integrado nas redes 6G", completa o pesquisador.

 

Próximos passos

 

Segundo o professor Luciano Leonel Mendes, do Inatel, hoje o trabalho é fazer um levantamento detalhado junto a diversos setores da sociedade brasileira para saber o que é importante para a rede 6G atender às demandas nacionais.

"O que nós precisamos do ponto de vista da medicina, o que nós precisamos do ponto de vista do agronegócio, das cidades inteligentes, da parte de gestão, governamental. Então nós estamos olhando para todos esses setores, levantando requisitos de cada um deles pra gente propor cenários de uso que sejam fundamentalmente importantes para o Brasil e além disso, a gente pretende contribuir com soluções, não apenas a demanda, mas como atender essas demandas, contribuindo com tecnologias habilitadoras que possam permitir que essas demandas sejam atendidas", explica o professor.

Conforme o professor, o Brasil, via de regra, sempre foi um consumidor de tecnologias desenvolvidas em países como Estados Unidos, Japão, China e na Europa, o que acabam gerando lacunas que não atendem às demandas do país. Por isso a ideia é levantar as demandas nacionais e trabalhar com projetos internacionais responsáveis pela definição do padrão 6G para que elas sejam atendidas no futuro.

"A gente pode ver que isso gera lacunas muito importantes pra gente, um exemplo clássico é o agronegócio, a gente percebe que ele é extremamente importante para o Brasil e a área rural é totalmente descoberta de conectividade. E a conectividade na área rural é essencial pra gente aumentar a produtividade, mantermos a qualidade dos nossos processos, redução de custo, fazer melhor uso dos insumos, reduzir a poluição, conviver melhor com o meio ambiente, então sem a conectividade no campo a gente não consegue avançar tecnologicamente nessa área.

A gente está desconectado hoje porque a gente nunca se propôs como nação a contribuir com os processos de padronização, e isso está mudando agora, o Brasil está sendo muito ativo na padronização do 6G, somos um dos primeiros países a ingressar nessa linha e a nossa ideia é justamente não deixar nenhum tipo de lacuna, quando o 6G for lançado, ele de fato atender a todas as nossas demandas", explica o professor.

O prazo de 2030 para a existência de uma nova rede ainda mais avançada que o 5G e com tendências 'futuristas', pode parecer curto, mas segundo os especialistas é bem possível.

"A previsão é exatamente essa 2030. Eu acho pouco tempo, mas eu acho que até lá a gente já vai ter uma coisa em etapas, uma primeira etapa do 6G em relação a menores latências, exploração de novas bandas, é possível, mas eu acho que isso vai se alongar depois para novas áreas do 6G", completou o consultor da RNP, José Rezende. 

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