A Raízen, maior empresa do setor de etanol do Brasil e uma das gigantes do agronegócio nacional, anunciou nesta semana a paralisação por tempo indeterminado das atividades na histórica Usina Santa Elisa, localizada em Sertãozinho, interior de São Paulo. O fechamento foi comunicado ao mercado e resultou em demissão de aproximadamente 2.000 funcionários, atingindo trabalhadores da própria cidade e de municípios vizinhos. Segundo a empresa, a decisão integra uma estratégia de “reciclagem de portfólio” e busca aprimorar a eficiência agroindustrial, em um momento marcado por elevados níveis de endividamento e pressões financeiras intensificadas pelo cenário internacional e pela volatilidade dos preços de açúcar e etanol.
A suspensão das atividades também envolve a venda de cerca de 3,6 a 4 milhões de toneladas de cana-de-açúcar, que devem gerar até R$ 1 bilhão em receitas destinadas à quitação de dívidas. Os contratos de fornecimento foram assumidos por outras usinas da região, o que deve evitar uma redução imediata da oferta nacional de etanol e açúcar. Especialistas e entidades do setor avaliam que, embora não haja risco de desabastecimento, o impacto social e econômico para Sertãozinho e região será significativo, já que a usina é um dos principais polos de emprego e movimentação financeira local.
Com a paralisação, a Raízen firmou acordo com sindicatos para garantir acertos trabalhistas, pagamento de abonos, extensão temporária de benefícios como plano de saúde, odontológico e seguro de vida, além de programas de apoio à recolocação profissional dos ex-funcionários. O fechamento da Santa Elisa também acendeu alertas em associações do setor sucroenergético, que manifestaram preocupação com possíveis efeitos em outras partes da cadeia produtiva e incertezas quanto à manutenção da capacidade industrial instalada, inovação tecnológica e sustentabilidade do segmento no Brasil.
A Usina Santa Elisa, fundada em 1936, teve papel fundamental no desenvolvimento do setor sucroenergético no país e, ao longo das décadas, foi símbolo da industrialização e do ciclo da cana-de-açúcar no interior paulista. A decisão da Raízen evidencia as dificuldades enfrentadas pelas grandes companhias do setor neste momento e reforça a necessidade de ajustes estratégicos para a sustentabilidade econômica das operações de etanol no Brasil.
Com o setor atento aos próximos passos, a expectativa é que a reestruturação da Raízen sirva de alerta para outras empresas e incentive discussões sobre medidas de estímulo à competitividade, proteção a empregos e fortalecimento da cadeia produtiva do etanol brasileiro.