O governo brasileiro optou por não adotar retaliações imediatas à tarifa de 50% imposta pelos Estados Unidos sobre produtos nacionais e intensificou a articulação diplomática como principal caminho para enfrentar a crise comercial. Em reuniões realizadas nesta terça-feira com representantes do setor industrial e do agronegócio, o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Geraldo Alckmin, reforçou que a estratégia envolve negociação transparente, construção de consenso com o setor produtivo e aproximação com empresas americanas que são parceiras do Brasil. Alckmin classificou a taxação americana como inadequada e sem base técnica, destacando que, ao contrário do que alega o governo dos Estados Unidos, o Brasil não tem superávit com os americanos, mas sim um histórico de déficits comerciais, inclusive em setores como o siderúrgico. Segundo o vice-presidente, a complementariedade do comércio bilateral deveria ser argumento suficiente para evitar medidas unilaterais que prejudicam cadeias produtivas nos dois países, encarecem produtos e ameaçam empregos no Brasil e nos Estados Unidos.
O diálogo com o setor privado, primeira missão do recém-criado Comitê Interministerial de Negociação e Contramedidas Econômicas e Comerciais, foi apontado como fundamental para formular propostas com base técnica e respaldo empresarial. O governo também já havia encaminhado aos Estados Unidos, antes mesmo do anúncio oficial da tarifa, uma proposta de negociação que segue sem resposta. Autoridades brasileiras ressaltam que as conversas continuam em aberto e que o governo está trabalhando para convencer não só as autoridades americanas, mas também grandes clientes e fornecedores norte-americanos da importância de rever a medida. No encontro, Alckmin sublinhou que a disputa comercial não será contaminada por questões políticas ou judiciais internas brasileiras, reiterando que o Executivo respeita a separação dos poderes e não interfere em decisões do Supremo Tribunal Federal, conforme sugerido no comunicado do presidente Donald Trump.
Enquanto isso, setores exportadores brasileiros já começam a sentir os efeitos da insegurança comercial, com retração das vendas em segmentos como máquinas, manufaturados de madeira e autopeças. A regulamentação da Lei da Reciprocidade Econômica, publicada também nesta terça-feira, amplia a margem de ação do Brasil para responder a barreiras e práticas discriminatórias, mas a prioridade, segundo o governo, permanece no diálogo e na busca de uma solução negociada para evitar uma escalada de retaliações que possa prejudicar tanto o Brasil quanto os próprios Estados Unidos. O governo aposta que, pelo histórico de parceria e interdependência comercial, prevalecerá o bom senso e a construção de uma alternativa que restabeleça o equilíbrio nas relações bilaterais, ao invés do caminho do confronto.